O grande mistério dos anos que passam, no dia em que passam, são os amigos. Os que não sobreviveram - à vida ou só ao ano anterior; os que sacodem o bolor - do esquecimento ou da saudade - uma vez por ano; os que regressam de um amuo à boleia da data que nos faz esponja de afecto; os que resistem - ao tempo, à distância, às guerras todas, quase todas de silêncio; os que resistem, mais difícil ainda, à vida de todos os dias; os que se estreiam para previsivelmente desaparecerem. E os que vêm agora, como rosas brancas, para nunca mais murcharem. A voz daquele milésimo de segundo que dita a meia-noite, raras vezes é a mesma.
Mas há vozes que ficam sempre, que estão sempre lá. Cá. As vozes que não morrem, nem mudam, nem se atenuam. A voz da mãe que substitui a amiga que já não está. Aquela voz branda, baixa, tão valente, aquela voz porta-voz de quem não pode já falar com palavras. Essa voz a lembrar que a distância entre a terra e o céu é apenas de um abraço que se dá com o coração. Às vezes, a terra pode ser o chão daqui e o céu Buenos Aires.
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