A mesa do café é uma torre de veludo. Nome de revolução pacífica, veludo. Do lado de lá, à distância de uma incógnita, um cavalo com asas. E lá em cima, se lá pudesse chegar, uma noite inteira de estrelas, o inefável olhar do jogador. As mãos a arder como fósforos acabados de lamber o papel. O que poderia detê-los? O destino como um lugar prestes a acabar. O início como anúncio da despedida. A vida numa ampulheta, em contagem decrescente. Um duelo. Hércules mata o Leão de Nemeia; Hércules é derrotado pela Hidra de Lerna. Quem é quem? Ambos foragidos da vida, bestas de carga que se aliviam da trouxa num tabuleiro de xadrez. Gatos que só adormecem quando a voz do colo lhes fala baixinho ao ouvido. Por sussurros. E acordam em sobressalto, rabugentos, quando são devolvidos ao chão. Gatos de temperatura certa. Kasparov contra Karpov. Como se chama a uma coisa que existe, mas não tem peso? Meteorito, corpo celeste? Quem ofusca quem? Inúmeras viagens ao estrangeiro, nenhuma ao céu. Nenhum mapa para ajudar. A mesa do café é um monte de destroços a levitar. O tempo a chegar ao fim. Agora ou nunca. Violinos a gemer, aves de rapina a levantar voo, o chão a tremer, o mundo já podia a acabar. A história toda contada no tempo de um café. Com adoçante, por favor.
quarta-feira, novembro 18, 2009
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