domingo, outubro 11, 2009

Philip Roth: Indignação


É cada vez mais difícil dizer qual é o melhor livro de Philip Roth. Quase tão difícil como encontrar um livro do autor americano em que a morte não seja a personagem principal. Em Indignação, a sua obra mais recente de uma colecção de 27, a história não é contada por quem, como habitualmente, trilha esse caminho para o fim; é contada porque quem já chegou ao fim, e volta para revisitar vida. Ou, como diz Roth, contada por quem está "sob o efeito da morfina". Marcus Messner é o narrador. A Guerra da Coreia (1951-1953) é o cenário.


Messner é um rapaz judeu de 19 anos, filho único de talhante, aluno brilhante, primeiro elemento da família a ingressar no ensino superior. O rapaz de quem se espera e a quem se exige nada menos do que ser o melhor. Em tudo. Mas o que pode esperar-se de um rapaz para quem "indignação" é a sua palavra preferida e que consegue citar, de cor, o discurso de Bertrand Russel, "Porque não sou cristão"? Antes que essa exigência paternal, impregnada de exagerada protecção, o asfixie, ele decide trocar Robert Treat, ao pé de casa, pelo Winesburg College, na zona rural do centro-norte do Ohio, a uma distância que o pai - amado, mas enlouquecido e enlouquecedor - não poderia percorrer com facilidade. De repente, quase faz lembrar a história verídica - e aguda! - de Christopher McCandless ["O lado selvagem", Jon Krakauer], mas essa impressão desvanece-se quando a história avança. E avança depressa, porque o livro é pequeno e lê-se de um penada.


Indignação cruza a guerra lá fora e o quotidiano no seio de um universo académico retrógrado e ditador. E como um pode influir no outro. Cruza a tentativa de o Poder poder cercear a liberdade - física e mental - e o contrapoder da convicção e das hormonas em plena juventude (há sexo, claro, estamos no planeta Roth!). O sagrado e o profano, seja lá o que for um e o outro. Podia ser uma história quase banal. E no entanto, é tudo menos isso. É Roth, de dedo indicador esticado, a denunciar-se no seu absoluto melhor.

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