Já ninguém se apaixona como antes. De forma arrebatada e bloqueadora. Já ninguém quer morrer de amor, até porque depois não se morre realmente e ressuscitar do estado temporário de sonambulismo dá muito mais trabalho. Já ninguém escreve cartas dramáticas, terminais, com selos colados com sal das lágrimas num envelope de papel, nem fica em casa fechado, aturdido, a ouvir músicas de fazer chorar as pedrinhas da calçada. Já ninguém perde a fome quando o coração acelera, nem falta à escola ou ao emprego alegando uma inusitada dor de barriga, que é afinal do peito. Já ninguém fica às escuras a jurar que nunca mais vai sentir isto outra vez. Já ninguém acredita que há coisas que só acontecem - quando acontecem - uma vez na vida e que há uma única pessoa para sempre, porque há sempre demasiadas pessoas a gravitar à volta - todas únicas, todas especiais. Já ninguém se apaixona como os adolescentes - nem sequer os adolescentes. A paixão imberbe, inocente, total, ansiosa e em carne viva acabou.
Antes, quando alguém julgava apaixonar-se a sério, lutava incansável e pacientemente pelo objecto da paixão. Mesmo que isso implicasse vergonhas, meter cunhas aos amigos, fazer cenas e figuras tristes. Hoje, quando alguém tem a vaga impressão de estar apaixonado, fica à espera que passe. E que não atordoe muito enquanto não passar. Sem perder a pose. Antes, quando alguém estava apaixonado a sério e não era correspondido, cortava relações. Era o tudo ou nada. Hoje, quando a paixão não é correspondida, as partes ficam amigas e partilham o mesmo café. A vida pela metade é hoje mais do que razoável. Antes, a impossibilidade da paixão desejada impossibilitava outras paixões. Hoje, a paixão incumprida é motor essencial para abertura a novos relacionamentos. Antes a paixão era confessada e assumida; hoje é disfarçada e recalcada.
As histórias todas têm um fim. Mas na vida, o fim de cada história significa sempre o início de uma nova. E, às vezes, as que que terminam nunca chegaram realmente a começar. Poderia ser mais triste?
Antes, quando alguém julgava apaixonar-se a sério, lutava incansável e pacientemente pelo objecto da paixão. Mesmo que isso implicasse vergonhas, meter cunhas aos amigos, fazer cenas e figuras tristes. Hoje, quando alguém tem a vaga impressão de estar apaixonado, fica à espera que passe. E que não atordoe muito enquanto não passar. Sem perder a pose. Antes, quando alguém estava apaixonado a sério e não era correspondido, cortava relações. Era o tudo ou nada. Hoje, quando a paixão não é correspondida, as partes ficam amigas e partilham o mesmo café. A vida pela metade é hoje mais do que razoável. Antes, a impossibilidade da paixão desejada impossibilitava outras paixões. Hoje, a paixão incumprida é motor essencial para abertura a novos relacionamentos. Antes a paixão era confessada e assumida; hoje é disfarçada e recalcada.
As histórias todas têm um fim. Mas na vida, o fim de cada história significa sempre o início de uma nova. E, às vezes, as que que terminam nunca chegaram realmente a começar. Poderia ser mais triste?
Não, Helena. Tens toda a razão. Nada pode ser pior do que sentir que já pouco ou nada se sente. Mas tu consegues captar esse estado de dormência humana que poucos conseguem, o que significa que ainda sabes o que é sentir essa paixão avassaladora, caso contrário não a descreverias tão perfeitamente. A máquina-humana é cada vez mais máquina e menos humana...eu faço tudo para permanecer analógico ;)
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