quinta-feira, fevereiro 27, 2014

quarta-feira, fevereiro 26, 2014

High on the skyline

sexta-feira, fevereiro 14, 2014

domingo, fevereiro 09, 2014

sábado, fevereiro 08, 2014

“Por minha culpa, minha tão grande culpa”


“Oxitocina”, de Mara Andrade
“Por minha culpa, minha tão grande culpa”, de Mara Andrade e Marco da Silva Ferreira

 “Transposition#2”, da CCN – Ballet de Lorraine
“Objets re-trouvés”, de Mathilde Monnier

GUIdance – Festival Internacional de Dança Contemporânea, em Guimarães, veio transformar o frio mês de Fevereiro num dos meses mais interessantes do ano. Quinze espectáculos de dança contemporânea, com cinco estreias (duas absolutas e três nacionais) em meia dúzia de dias é mais do que pode pedir-se. 

sexta-feira, fevereiro 07, 2014

Coriolano, Shakespeare



T.S. Eliot considerava Coriolano superior a Hamlet. No duelo de tragédias políticas de Shakespeare, a densidade do príncipe da Dinamarca ficaria muito aquém da do general romano, mesmo se ambas são histórias de vingança e traição e ambas perseguem o mesmo fim: representar uma elegia da moralidade. Hamlet "é uma confusão, cheia de cenas supérfluas", escreveu Eliot. "É a Mona Lisa da literatura”; já Coriolano é uma história simples, com sentido, não apenas um conflito doméstico, e que se conta num parágrafo.

O general que dá nome à peça é o herói de guerra responsável pela derrota do exército dos volscos. Como prémio, a nobreza pretende que ascenda de militar a político, candidatando-se a cônsule. Mas para isso depende do voto do povo. E Coriolano é o mais anti-povo possível. Despreza a plebe, odeia massas, tem uma inabilidade magistral para fazer campanha, para dizer o contrário daquilo que pensa e sente e também para ser adulado (e aqui, numa ambiguidade de precisão extraordinária, quase, quase gostamos dele, dessa inflexibilidade que sabe quase a incorruptibilidade). A sua fúria e visão antidemocrática levam-no não ao poder, mas ao exílio. E, mais tarde, a juntar-se aos volscos que antes derrotara com a inversa missão de vingar-se de Roma. No momento final, contudo, Caio Márcio, verdadeiro nome do herói trágico, também ele afinal manipulável, acaba por ceder ao apelo pacificador da mãe, única figura a quem se ajoelha. Coriolano, inflamado, impetuoso, radical, orgulhoso, representa assim uma tripla traição: primeiro ao povo, depois a Roma e, por fim, ao exército que o acolhera. Morre assassinado.

Não sabemos se Nuno Cardoso, como T.S. Eliot, prefere Coriolano a Hamlet. Sabemos que nunca encenou Hamlet, e que começou há sete anos a trabalhar numa espécie de trilogia shakesperiana sobre o poder. Depois de visto Coriolano - em cena no Teatro Nacional São João, no Porto, até dia 16 -, “Ricardo II” (2007) e “Medida por Medida” (2012) parecem apenas ensaios menores, parte do processo para chegar aqui. Aqui a uma peça de três horas (que voam) que nos confronta com o cidadão que queremos ser, com os políticos que estamos dispostos a eleger ou a banir, com as revoluções que estamos dispostos a encetar ou a recalcar. O encenador confirma a impressão: “Coriolano é o corolário perfeito para esta incursão shakespeariana. Neste momento, esta peça e as características do seu herói fazem dele catalisador de um conjunto de questões sem resposta, mas com muita angústia, que me assaltam na minha conduta como cidadão e homem”.

As angústias dele são as nossas. “Tem a ver com aquilo de que se fala muito em Portugal, que é a falência do regime. Tem a ver com a fraqueza e a tristeza de um jogo político ligado a interesses (…), tem a ver com este medo que arautos do Olimpo usam para nos incitar à revolta ou para nos chamar lamechas e tratar como gado”. A peça, continua, “deixa à mostra o que todos querem disfarçar, uma polis assente no reconhecimento de uma estratificação social, na manipulação, na objectificação das pessoas”.

Sempre que se encena ou adapta Coriolano, sublinha-se a actualidade de uma peça escrita há quase quinhentos anos. E volta a ser verdade. Vale a pena parar para pensar em como o texto sobrevive ao tempo. E, no caso, também ao contexto – real (em Cardoso, sempre com piscadelas de olho ao país) e cénico. Em “Ricardo II”, Nuno Cardoso reduziu o reino a um campo de futebol e substituiu o trono por uma cadeira de praia. Em “Medida por medida” colocou a acção em plena auto-estrada. Desta vez, de forma menos torcida, mais óbvia, porventura também mais eficaz, fez das escadas do Parlamento o cenário de guerra. E nós estamos todos lá representados, vemo-nos ao espelho – e isso é verdadeiramente impressionante. Como diz Cardoso, está ali um “regime com dois tronos em que quem não merece manda, e quem merece deixa mandar”.

Já o disse mil vezes, Nuno Cardoso é, de longe, dos meus encenadores preferidos. Nenhum outro me deixa a ressacar no intervalo das criações. Por tudo. Pelos dramaturgos e pelos textos que escolhe, pela inteligência com que os encena, pela equipa técnica que o acompanha quase sempre – sim, o Fernando Ribeiro (cenografia) e o Álvaro Correia (luz) são mesmo maravilhosos -, pelos elencos quase sempre inatacáveis. E sobretudo pelo denominador comum que ressalta do conjunto dos seus trabalhos: os valores no lugar certo. No capítulo shakespeareiano, no entanto, tive mais dificuldade em render-me. Excepto neste retumbante final, com Coriolano. Ainda por cima, teve o dom não de revelar, que estava revelado, nem de confirmar, que estava mais do que confirmado, mas de mostrar com total exuberância o gigantesco actor que é Albano Jerónimo no papel que muitos descrevem como o de um “aleijado emocional”. Seria injusto dizer que ele é a peça - não é, mas é grandioso.

tradução - Fernando Villas-Boas | encenação - Nuno Cardoso | movimento - Victor Hugo Pontes | cenografia - Fernando Ribeiro | guarda-roupa - Alejandra Jaña | desenho de luz - José Álvaro Correia | música - Rui Lima e Sergio Martins | apoio dramatúrgico - Ricardo Braun | interpretação - Albano Jerónimo, Afonso Santos, Ana Bustorff, António Júlio, Catarina Lacerda, Daniel Macedo Pinto, Joao Melo, Luís Araújo, Mário Santos, Pedro Frias, Ricardo Vaz Trindade, Rodrigo Santos, Sérgio Sá Cunha| produção executiva - Carla Fritz | assistente de produção - Alexandra Novo | gestão e administração - Hélder Sousa | Co-produção - Teatro Nacional D. Maria II, Ao Cabo Teatro, Teatro Do Bolhão, Centro Cultural Vila Flor, Teatro Viriato, Teatro Nacional São João

quinta-feira, fevereiro 06, 2014

Philomena by Stephen Frears ****



Uma vez num milhão o jornalismo conta uma história destas. E aí sim, é a melhor profissão do mundo. A história perversa das freiras que vendiam bebés irlandeses de mães solteiras aos americanos nos anos 50 foi descoberta pelo ex-jornalista da BBC Martin Sixsmith em 2004. Foi publicada na imprensa e depois em livro. Estreia hoje no cinema. Philomena, de Stephen Frears, é um soco no estômago.

http://www.theguardian.com/lifeandstyle/2009/sep/19/catholic-church-sold-child

quarta-feira, fevereiro 05, 2014

Lee Siegel*: Philip Seymour Hoffman’s Beautiful Helplessness


There was a moment, two years ago, during Philip Seymour Hoffman’s performance as Willy Loman, in the Broadway revival of “Death of a Salesman,” when the actor seemed to break down. After a climactic fight, Willy’s son Biff sobs wildly and reaches for his father as Willy desperately pulls his lost son to him. Different actors playing Willy have done this scene in different ways: Lee J. Cobb held Biff with weak, half-clenched fists, as if fear and humiliation had atrophied his hands; Dustin Hoffman kept his hands suspended just over Biff’s back, unable to touch him, as if alienated not just from the product of his labor but from the creation of his own flesh.

But Hoffman’s Willy embraced his son with hungry physical intensity, hands open and grasping, as if his miserable existence had found its destiny, which was simply to hold and be held by another person, for no profit or purpose beyond fulfilling an elemental need. Hearing the news that Hoffman, long haunted by addiction and recently separated from his companion, who was also the mother of their three children, had died of a heroin overdose, I could not help but recall that unforgettable moment onstage, in which the engine of Hoffman’s art—a barely disciplined helplessness—stood revealed in his character’s ordeal.

Much will probably be written in the coming days about addiction, and about how much more Hoffman could have done if only he had kept the poison out of his life—and that is true, to an extent. He was only forty-six when he died. But the brute, ugly fact might also be that the poison was his elixir. It could be that Hoffman belonged that small group of artists who have an arrangement with their demons. It is the stuff of myth and folklore: the Faustian bargain, Balzac’s “The Wild Ass’s Skin,” “The Picture of Dorian Gray.” In these half-allegories, the price of remarkable creative vitality is a wasting away of mortality. Or, to put it another way: without the need to flee from pain by transfiguring it, you would not have the energy to endure the suffering, the solitude, and the uncertainty that are part and parcel of artistic expression. 

This comes dangerously close, I know, to the banal romantic notion that all genuine artists must suffer, which is accurate only in the sense that people are by definition gregarious and that making art, even if you are an actor plunging, in public, down into your depths, is solitary, even asocial, in its untrammelled freedom. Still, the link between suffering and creativity seems less romantic than pragmatic. There is something to Aristophanes’ satiric parable in which humans were once whole and were then split down the middle, and thus spent their lives seeking their other half. We would not love or desire if we had everything we needed. Some artists, like Hoffman, would not escape into their creations if art did not mend what life had painfully shattered. 

Like all artistic geniuses, Hoffman redefined his art, and the way he redefined it was, precisely, to disappear into his characters instead of playing his life as he was playing his role, which has been until recently the American style of acting. For every role that, in retrospect, seems to reflect his inner turmoil, there were characters he played to perfection who were a universe away from a tormented man. You watch Brando, and Brando’s immediate heir, Al Pacino, and De Niro and Dustin Hoffman, and all the other so-called Method actors, and you are watching with a double perspective. They are playing what we think we know about them as real people even as they are portraying a made-up person. And, through their accumulated roles, they are not just creating a body of work—they are telling their life story. (This mostly applies to male actors of the Method generation, not to female actors, but that is a different subject for a different essay.)

By contrast, Hoffman relinquished himself to his characters; thus the designation of character actor. In that, he was more like a British actor than an American one, though Hoffman’s rawness would, in a British actor, be a well-oiled spontaneity. Between wry, jaded Truman Capote, the craven, venal journalist in “Red Dragon,” and the wholly unironic and superhumanly self-possessed Lancaster Dodd in “The Master,” there are no characterological affinities, only utter self-annihilation. Hoffman may not have been the first character actor to become a star—Jeffrey Wright and Kevin Spacey also come to mind—but he was the most brilliant and unforgettable. 

In our current post-character-actor moment, Hoffman was creating a new conventional style for younger actors to react against, just as Pacino had for the previous generation. Bradley Cooper, for example, does not play himself, yet he does not disappear into his character, either; he is, like a member of a medieval travelling-theatre group, simply a professional actor for hire. Staying professional is one way for an actor to survive. Whether it will produce performances that are, like so many of Hoffman’s, immortal, remains to be seen. 

[Lee Siegel is the author of, among other books, two collections of criticism, “Falling Upwards: Essays in Defense of the Imagination” and “Not Remotely Controlled: Notes on Television.” He is a frequent contributor to newyorker.com.]

terça-feira, fevereiro 04, 2014

Perfect storm


“Snow is inherently nostalgic. It encourages you to travel back and think about your life. I think it’s something about the way it blankets reality, sort of erasing the present one dead pixel at a time. And that makes room for the past,” says Tomer Hanuka, about his image “Perfect Storm.”

It may be his first cover for The New Yorker, but Hanuka conceived of the drawing a few years ago.

“I thought of it after reading ‘Indianapolis (Highway 74),’ by Sam Shepard—a short story that ran in The New Yorker,” Hanuka explains.

“It’s about a middle-aged man stumbling into a former lover in a hotel lobby during a snow storm. He can’t quite place her at first, but after some minutes it hits him. Here is the quote:

…and then I do suddenly get a picture of that time, a fleeting memory of a morning facing a New York window with a bowl clenched between my naked knees, and I say, just to be saying something, “Your hair is even redder than I remember,” which makes her burst out laughing, happy that I haven’t abandoned the game.

“I moved to New York in my early twenties, after being in the Israeli Army for three years,” Hanuka says. “I have this image of myself in my first rental apartment, sitting on the edge of the bed and staring at the window. You encounter the world as an adult for the first time—I think that’s what the story was about. That’s a powerful thing. Every window you stared through before was your parent’s world, and now, suddenly, you’re in a city. You’re washed with optimism and a sense of freedom—you’ve just been liberated and that’s amazing. And then you realize you can do very little, and it’s terribly disappointing. But the heartache and all that, that comes later.”


segunda-feira, fevereiro 03, 2014

Daniel Oliveira: "El Mundo": quem matou Pedro Jota?


Os jornalistas não são intrépidos heróis em busca da verdade e em guerra com os poderosos do mundo. Nem sabujos que se vendem por um prato de lentilhas. Os jornalistas são profissionais dotados de um código profissional próprio (uns cumprem, outros não), de modos específicos de trabalho e de condições materiais para o exercício da sua função: informar o público. Com as limitações humanas que todos temos perante os vários poderes. Mas insisto nas condições materiais para o exercício da sua função. Como se verá, é a chave para o tema deste texto.

Ainda com 28 anos, Pedro José Ramirez já era diretor do Diario 16. Saiu do jornal depois de graves acusações que fez sobre o envolvimento do governo de Felipe González nos GAL (Grupo terrorista apoiado pelo Estado para combater a ETA). Essas acusações acabaria por prová-las no jornal que ele próprio fundou, o "El Mundo del siglo XXI", conhecido apenas por El Mundo. O jornal que acabaria por destronar os seus concorrentes mais próximos, como o ABC, e chegar a competir com o poderoso "El Pais." A vida de Pedro Jota, como é conhecido em Espanha, tem muitos momentos de admirável coragem e tornou-se um dos jornalistas com mais inimigos em Espanha. De tal forma que um vídeo sexual amador menos ortodoxo, em que era protagonista, foi espalhado por gente de poder para o tentar destruir. Mas o diretor do El Mundo mostrou ser, nos últimos 25 anos, um homem com sete vidas.

Mas que não haja enganos. Também foi ele que, quando uma greve ameaçou impedir a saída do jornal, usou de tudo para derrotar os grevistas. E foi acusado pelo chefe de fecho, Francisco Frechoso, na televisão, de ter desinformado os leitores sobre a incidência da greve no jornal. Não hesitou em despedir Frechoso, com a regra que "nenhum trabalhador deve aproveitar a sua presença noutros meios de comunicação para lesar os interesses do seu próprio jornal". Uma sentença do Tribunal Constitucional acabou por dar razão ao jornalista despedido, em nome da "liberdade de expressão", valor primeiro para qualquer jornal que se preze. Resumindo: o ex-diretor do El Mundo também conhecia limites para a liberdade e para a verdade. Era a do seu próprio poder. Humano, portanto.

Politicamente, nada me liga a Pedro Jota. O El Mundo definiu-se, logo na sua fundação, como um periódico de tendência "liberal" e o seu diretor sempre foi muito próximo do Partido Popular. E, no entanto, não posso deixar de admirar o jornal que denunciou os GAL e os casos de corrupção que envolviam o governo de González. E o diretor monárquico e de direita que mais fez para que a verdade sobre os negócios escuros de Iñaki Urdangarín, que abalaram de forma talvez irreversível a monarquia espanhola, e sobre o "caso Bárcenas" - a contabilidade paralela no PP, com pagamentos e salários não declarados a funcionários e ministros e financiamento ilegal do partido. Um escândalo em que o próprio Rajoy estará diretamente envolvido. Rajoy, diga-se em abono da verdade, por quem Pedro Jota nunca morreu de amores. Escreveu no twitter: "Passará Rajoy à história como o homem que fraturou o centro-direita em Espanha, destruindo o PP unido de Aznar?" Não eram amigos próximos, portanto.

Em qualquer um destes casos, o El Mundo e o seu diretor tiveram um papel central. E por isso se diz que foi a Zarzuela [o palácio real] e a Moncloa [sede do governo] que fizeram cair Pedro Jota. Sim, o poderoso fundador do El Mundo foi demitido pelos novos donos do jornal, os acionistas da RCS (também proprietária do Corriere della Sera), quase todos originários o sector industrial e financeiro italiano.

Explica Jesús Cacho, antigo colaborador do jornal (que teve, também ele, os seus desencontros com Pedro J. Ramirez) e conhecedor do mundo financeiro: "precisam de tirar o canário para poder vender a jaula" . E diz isto porque não compra a ideia de que foi o governo de Rajoy, bem mais fraco do que os de Aznar e González, e ainda menos a Casa Real em apuros, a conseguir derrubar Pedro Jota. Acha que foi um poder que não via com bons olhos a independência de Pedro Jota. Um diretor realmente jornalista que, "encarnado como ninguém as misérias deste ofício e boa parte das suas glórias" , não se limitava a fazer jornalismo. Tratava de Poder. Com maiúscula. É o que fazem e têm de fazer os diretores de jornais realmente poderosos em países onde há realmente poder de que tratar.

Apesar dos elogios, não vale a pena chorar muito por Pedro Jota. Enriqueceu bastante na profissão e a indeminização que leva para casa (15 milhões de euros) será um rude golpe para o jornal. Por isso, mais do que os elogios fúnebres, o que me interessa é saber porque caiu Pedro Jota. Porquê agora, e não quando fez tremer outros governos e outros interesses? Não compro, tal como Jesús Cacho, a teoria de que Moncloa e Zarzuela conseguiram o que há tanto tempo tantos poderosos da política espanhola desejaram sem sucesso. Logo quando estão em queda e decadência. A teoria que dá aos políticos um poder sobre os jornais que já não têm sobre os países custa-me sempre a comprar. Mas é fácil de vender. E sai barata. Exatamente por ser a menos arriscada de pôr no mercado. Tem compradores certos e ninguém se aborrece. Mas o poder que faz tremer os jornais é o poder que faz tremer os Estados e os políticos. É opoder  do dinheiro. De quem compra as empresas que são donas dos jornais. De quem anuncia neles.

Regresso a Jesús Cacho: "Não foi o poder político o primeiro responsável pelo lodo em que hoje chapinha esta nobre profissão; foram os amos do dinheiro, os poderes económico-financeiros, os que teceram esta teia de aranha em que se debate hoje, presa, a liberdade de informar" . E ele explica como isto aconteceu: O jornalismo e as empresas jornalísticas, em mimética identificação com a orgia de dinheiro fácil que caracterizou o boom da economia especulativa espanhola, avançaram com operações que hoje são quase impossíveis de imaginar e que as endividaram para sempre e as puseram nas mãos do poder financeiro. Até chegar a crise. A circulação do El Mundo caiu 14% em 2012, incluindo a sua versão digital paga. No ano anterior, o consórcio proprietário do título, a Unidad Editorial, perdera 243 milhões de euros. Em 2012 saltou para os 526 milhões. Frágeis, não aguentam o peso da liberdade. E homens como Pedro José Ramirez deixam de fazer sentido ao leme de tão vulneráveis botes.

O jornalismo exige coragem. Mas não chega. Os jornalistas (e até os colunistas, apesar do seu maior grau de autonomia), precisam de saber que, a dirigir um jornal, está alguém que enfrentará todos os poderes para defender essa mesma coragem. Alguém que saiba que a credibilidade e a independência de um jornal de referência são o seu único verdadeiro ativo. E para que quem dirige o jornal possa cumprir essa função é indispensável que quem o detém não tente condicionar a liberdade de informar. Mas basta que se sinta a fraqueza financeira duma empresa de comunicação social para esta ser presa fácil de quem a queira silenciar. E aí, não há coragem que chegue.

Infelizmente, a tempestade perfeita aconteceu. As empresas de comunicação social também foram usadas no casino em que se transformou a economia. E, chegada a crise, foram as primeiras vítimas da perda de poder de compra e dos cortes em publicidade. A queda de alguém tão poderoso e temido como Pedro Jota às mãos dos novos proprietários é apenas o sinal da profundidade desta crise e do efeito que terá na comunicação social livre. Era a parte que faltava para a decadência democrática do Ocidente. O jornalismo que hoje se faz não nos serve? Não queiram saber a que servirá a sua morte. E tudo isto se passa em Espanha. Por cá, basta um sopro para derrubar jornais. 

Hoje, Expresso

Moisés Lemos Martins*: A FCT e a política de extermínio das Ciências Sociais e Humanas


Uma vez à frente da FCT, Miguel Seabra chamou os diretores dos centros de todas as áreas científicas e comunicou-lhes que as Ciências Sociais e Humanas (CSH) estavam a ser sobrefinanciadas em Portugal. De acordo com o modelo alemão, que passava a ser a norma, impunha-se um ajustamento. As CSH seriam financiadas a 15% do total do financiamento público para a Ciência, e não a 22%, como até então.

Esta foi a primeira etapa do plano de ajustamento do Governo de Passos Coelho para a Ciência, explicado meses antes à Agência Lusa pelo próprio Primeiro-Ministro (09/11/2011) nos seguintes termos: iria haver alterações ao modelo de financiamento das unidades de investigação, concentrando os apoios “onde eles são cientificamente mais rentáveis”.

Passados dois anos, o Presidente da FCT, em entrevista ao jornal PÚBLICO, fez o balanço do caminho percorrido. Em síntese, diz o seguinte: em 2013, o financiamento aumentou 30% e as mudanças entretanto introduzidas no sistema apenas o vieram tornar de maior qualidade e exigência, promovendo a excelência, a competitividade, a ligação ao tecido empresarial e a produtividade. Por outro lado, acrescentou, ao contrário do que se tem dito, não tinha conhecimento de haver investigadores a sair para o estrangeiro.

Para não me alongar em raciocínios complexos sobre o sentido das mudanças introduzidas no sistema científico pela FCT, em 2012 e 2013, vou esmiuçar o ajustamento empreendido, falando do centro de estudos que criei em 2001 e de que sou diretor. O Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), da Universidade do Minho, é uma unidade de investigação em Ciências da Comunicação, avaliada pelos peritos internacionais da FCT como Excelente, de resto a única na sua área a obter tal classificação. Trabalham neste centro 60 investigadores doutorados e cerca de 130 investigadores fazem o doutoramento. Por outro lado, uma dúzia de bolseiros apoiam os projetos de investigação em curso. Mas em apenas dois anos, a FCT reduziu o melhor centro de estudos em Ciências da Comunicação do país a uma unidade de investigação residual. Cortou-lhe 30% do financiamento global, não aprovou projetos avaliados como excelentes e reduziu incrivelmente o número de bolsas para formação avançada. Em 2013, o CECS teve apenas uma bolsa de doutoramento aprovada, um projeto aprovado em 2012 e nenhum no concurso de 2013.

Por outro lado, também em 2012, a área de Ciências da Comunicação perdeu a sua qualidade de área específica, tendo sido colocada no único bloco constituído das CSH, o qual, com os seus 15% de peso no financiamento, inclui, além das Ciências da Comunicação, a Sociologia, a História, a Geografia, a Antropologia, as Línguas e Literaturas, os Estudos Culturais, as Ciências da Educação, as Artes, entre outros. A FCT abriu em 2012 e 2013 concursos de investigadores-FCT, para bolsas de topo na investigação. Os cinco candidatos do CECS foram reprovados, como aliás todas as candidaturas nacionais vindas da área das Ciências da Comunicação. Em ambos os concursos, todavia, nenhum membro do júri era investigador desta área científica.

Já em fevereiro de 2013, na nota editorial que assinei na Newsletter da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação (Sopcom), a que presido, escrevi, em síntese o seguinte: “A FCT desencadeou um inaudito e vertiginoso processo de controle dos centros, com relatórios e auditorias que se atropelavam uns aos outros. Sobre a sua atividade, de memória uns, de prospeção outros. Sobre as verbas próprias nos últimos cinco anos. Sobre os artigos publicados na ISI - Web of Science. Sobre a justificação da utilização em 2013 do remanescente das verbas do projeto estratégico de 2011 e 2012. Sobre as atividades relativas a estes dois anos. Sobre o plano de atividade para 2013. [e ] cortaram-nos para cima de 30% das verbas contratualizadas para a investigação”.

Passou-se um ano. A FCT rompeu o pacto de confiança que tinha com as universidades públicas – elas não são mais o seu parceiro privilegiado para a execução das políticas científicas. Entretanto, num galope sempre cada vez mais alucinante e vertiginoso, a irracionalidade seguiu impante. Concursos estruturantes para a vida das instituições nos próximos seis anos, a serem abertos nas férias de verão ou a serem lacrados na passagem do ano. Concursos sem regras fixas, ou com regras de geometria variável, a serem fixadas em andamento, e até depois de concluídos os concursos, ou então, pasme-se, a serem alteradas no meio de concursos abertos. Plataformas informáticas que nunca funcionam de modo escorreito e tornam caótica a gestão dos prazos dos concursos. A aplicação de métricas à produtividade científica nas CSH, completamente inadequadas, que fazem depender a qualidade académica de meras agências de rating. A nomeação de um Conselho Científico de Ciências Sociais e Humanidades, sem consulta à comunidade académica e com a credibilidade ferida por uma série de intrusos, desqualificados na área, uns, com o estigma da encomenda partidária, outros, e com o vício do nepotismo, outros ainda, um Conselho diminuído em “autonomia, autoridade e experiência”, a ponto de seis das principais associações científicas desta área terem exigido, sem mais, a revogação da decisão de nomeação.

Esta estratégia, de tão feroz e ensandecida, apenas pode ter como objetivo destruir a comunidade académica, vencendo-a pelo cansaço, pelo nojo e pelo desespero, na presunção de que seja impossível suster tamanho ciclone.

E, todavia, instados a pronunciar-se sobre o CECS, o inglês Denis McQuail, professor da Universidade de Amesterdão e uma referência mundial nas Ciências da Comunicação, e também a inglesa Annebelle Sreberny e a estadunidense Janet Wasko, respetivamente, a antiga e a atual presidentes da mais importante associação mundial de Ciências da Comunicação, a International Association for Media e Communication Research (IAMCR), escreveram, em síntese:

“O CECS é o mais reputado centro de pesquisa português em várias áreas, que incluem a literacia mediática, a economia política dos média, a regulação dos média, os estudos lusófonos (políticas da língua, políticas da comunicação, identidade e narrativas, identidade e multiculturalismo), e estudos sobre as políticas científicas e tecnológicas no espaço ibero-americano. Além disso, o CECS desempenha um papel de liderança crítica nos estudos da Comunicação. Os seus membros detêm posições de topo em associações internacionais e na direção de alguns bem-conhecidos grupos de pesquisa internacional. O centro organizou, por outro lado, alguns dos mais importantes congressos internacionais de Comunicação: o Congresso da IAMCR; em 2010, vários Congressos Lusófonos, desde 1999; o Congresso da Secção de Rádio da ECREA, em 2012; o Congresso Europeu de Semiótica Visual da IAVS, em 2011”. 

Releio agora a entrevista do Presidente da FCT ao jornal PÚBLICO, de há uma semana. Ouço-o, mais uma vez, na audição parlamentar em que esteve com a Secretária de Estado da Ciência, Leonor Parreira, em finais de dezembro passado. Recordo, entretanto, a audiência que me concedeu há quinze dias. E olho para as duas cartas de recomendação que acabo de escrever para jovens investigadores do CECS, ambos recém-doutorandos, com bolsas de pós-doutoramento recusadas, mas que concorrem agora a lugares abertos, um pela Universidade de Boston, outro pela Universidade de Dresden. E penso, deveria ser permitido puxar da pistola, quando do Governo ou da FCT nos viessem falar de qualidade e de excelência, de ligação às empresas, de empreendedorismo, de competitividade e de produtividade. Porque é criminosa uma política científica que não tem pensamento nem cultura, que não tem conhecimento nem consciência.

Um vento maligno levantou-se na Cidade e percorre-a em devastação. Enquanto durar, serão anos de calamidade.

*Director do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) da Universidade do Minho e Presidente da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação (Sopcom) e da Confederação Ibero-americana das Associações Científicas e Académicas de Comunicação (Confibercom).

domingo, fevereiro 02, 2014

Pedro Ramirez: Cambia el director, sigue la orquesta


Esta es mi última Carta como director de EL MUNDO. Y este número 8.808, el último en el que mi nombre aparecerá encabezando la mancheta. Así ha sido desde que hace 25 años fundé este periódico junto a mis compañeros. Y si a estos 8.808 días les sumamos los 3.151 de 'Diario 16', son 11.959 días dirigiendo periódicos. Multiplíquese la cifra por una conservadora tirada media de 250.000 ejemplares y el resultante son nada menos que 2.989.750.000 copias a lo largo de 34 años. Casi 3.000 millones de periódicos distribuidos con mi firma durante más de la mitad de mi vida. Si contamos, también por lo bajo, 4,5 lectores por ejemplar, estamos hablando de al menos 13.500 millones de lectores. Unas cifras como para marear y baldar a cualquiera. No a mí.

Voy serenamente camino del vientre de la ballena pero, a diferencia de Jonás, yo no me he ofrecido como víctima propiciatoria. Han sido los propietarios del periódico quienes, en uso de sus legítimas atribuciones, han decidido poner fin a esta etapa. No estaba, no estoy cansado. Si de mí dependiera habría seguido siendo director de EL MUNDO no ya este año, no ya los tres años más que me quedaban de contrato, sino toda la vida. Así se lo dije, mirándoles a los ojos, a quienes tomaron la decisión. Y si hoy me volvieran a ofrecer el puesto, lo aceptaría de nuevo sin parpadear.

No niego que en muchas ocasiones -y especialmente durante estos durísimos años de crisis económica y putrefacción política- he tenido la sensación de estar atrapado por el deber de actuar en contra de mi propia conveniencia. Pero si eso era una cárcel de agobios y tensiones, yo quería cadena perpetua. No por ambición ni afán de poder -de sobra ha quedado demostrado que son los domadores de tigres de papel quienes prevalecen en España- sino porque, como explicaba Arthur Miller, «un periódico es una nación hablándose a sí misma» y ni uno solo de esos casi 12.000 días he dejado de sentir la preocupación por mi país, la adrenalina de los titulares y el cierre, el hormigueo de la información exclusiva, la pasión cívica por transmitir a los lectores cuanto se les oculta y les concierne. Lo he dicho siempre: el periodismo es una forma de vida que adquiere valor en sí misma. La forma de vida más digna y emocionante a la que cabe dedicar el tiempo de cada uno sobre esta tierra.

En tiempos y circunstancias distintas me han destituido dos veces como director. Hace 25 años bajo un Gobierno del PSOE, ahora bajo un Gobierno del PP. Al final, la ballena es la ballena. Ya lo dijo John Adams: «Las fauces del poder están siempre abiertas para devorar y su brazo siempre extendido para destruir, si puede, la libertad de pensamiento y de palabra hablada y escrita...». Ahora ya saben a qué me refería el domingo pasado cuando hablaba del espejo arrojado contra el suelo mientras se derrite el «rey de nieve» y suena la canción de Alaska y Dinarama: «¡Vete de aquí, no me supiste entender! (...) Ni tú, ni nadie, nadie puede cambiarme».

Prefiero que sean otros los que interpreten la secuencia de los acontecimientos desde que volví a ser reportero por un día y reflejé las revelaciones de Bárcenas sobre la financiación ilegal del PP y los sobresueldos de sus jefes; desde que publicamos los SMS de Rajoy instando a «resistir» al ex tesorero aun después de que se descubriera su fortuna en Suiza; desde que el presidente acusó en el Parlamento a EL MUNDO de «manipular y tergiversar las denuncias de un delincuente para generar una calumnia»; desde que pocos días después demostramos que quien había «manipulado y tergiversado» había sido él, reproduciendo la suculenta nómina de Bárcenas cuando «ya no estaba en el partido»; desde que descubrimos que la Fiscalía investigaba las percepciones del marido de María Dolores de Cospedal en el banco resultante de la fusión con Caja Castilla-La Mancha; desde que ella declarara poco después en sede judicial, sin venir a cuento, que «no leía» EL MUNDO y desde que el Gobierno y la cúpula del PP en pleno boicotearan con ostentación e infamia un acto del significado de la entrega de los Premios Internacionales de Periodismo -con Vargas Llosa entre los receptores-, instituidos en memoria de tres compañeros que dieron la vida por la libertad de prensa. El poder había convertido a EL MUNDO en un apestado y las grandes empresas del Ibex -salvo honrosas excepciones- actuaron en consecuencia.

Nunca sabremos si yo continuaría siendo el director de EL MUNDO de no haber sucedido todo esto y de no haberse entreverado tales episodios con los de Botsuana, Corinna, Urdangarin y la Infanta. Debo admitir que lo anómalo no es que el propietario de un periódico decida cambiar al director, sino que haya mantenido durante 25 años al mismo. De ahí que mi gratitud hacia los sucesivos dirigentes del grupo RCS -desde el legendario Cesare Romiti hasta el actual consejero delegado Pietro Scott Jovane pasando por el gran Vittorio Colao- por la confianza depositada tan larga y reiteradamente supere con creces el disgusto actual.

Todo administrador debe velar por los intereses de sus accionistas y es innegable que las relaciones con el Gobierno y las demás instituciones del Estado forman parte del marco en el que desarrolla su actividad una empresa periodística e inciden en la marcha del negocio. En un momento tan difícil para el sector como éste, el Ejecutivo de Rajoy podía haber tomado medidas que paliaran el impacto del desmoronamiento de una inversión publicitaria que -se dice pronto- ha caído en los periódicos desde los más de 2.000 millones de 2007 a los apenas 700 de 2013.

No estoy hablando de ayudas directas sino de planes de reconversión tecnológica, formación de periodistas, digitalización o fomento de la lectura, análogos a los de otras democracias. En lugar de ello se nos ha obligado a pagar el error administrativo del anterior Gobierno en la adjudicación de las licencias de la televisión y se mantiene el IVA del 21% para los diarios digitales frente al 2,5% de Francia. Está claro que Rajoy apuesta por el mito de «un Gobierno sin periódicos» -en realidad sueña con un Gobierno sin país- y ha optado por convertir la crítica y la denuncia en una mercancía cada vez más onerosa para los editores. No es extraño que en Unidad Editorial la cuerda se haya roto por mi cintura.

Hay tres cosas que, como les dije el jueves a mis compañeros, siento como punzadas en el hígado: dejar de ser director mientras Javier Espinosa -símbolo de todo lo mejor de este periódico- continúa secuestrado, no poder encabezar el desfile del próximo 23 de octubre cuando EL MUNDO cumpla su primer cuarto de siglo y no haber tenido tiempo para recoger los frutos del salto adelante que ha supuesto el cambio de piel de nuestro diario. Orbyt cuenta hoy con más de 127.000 suscriptores, 91.000 de los cuales corresponden a EL MUNDO. Tenemos, pues, más abonados digitales que todos los demás diarios españoles juntos y los orbyteros son la sal de la tierra.

Además, nuestra edición electrónica mantiene el liderazgo en internet, nuestras aplicaciones para móviles y tabletas crecen exponencialmente y lo mismo sucede con nuestras descargas de vídeo. En el canal tradicional, EL MUNDO es uno de los dos únicos diarios nacionales con más de un millón de lectores acreditados por el EGM -aventaja en 500.000 al tercero- y mantiene con claridad el segundo puesto en difusión pese a que la fuerte contracción del mercado distorsiona la perspectiva.

Cada uno podrá interpretar como quiera las miserias del presente, pero coincido con el diagnóstico que Miguel Ormaetxea hacía esta semana en su influyente blog Media.tics: no hay mejor garantía de supervivencia para una empresa periodística que conseguir que en el plazo de tres años el 50% de sus ingresos sean digitales. Ahí están los desafíos, ahí están las oportunidades e, inevitablemente, los riesgos. Recordad a Tácito.

Por encima de todas las cifras me siento fieramente orgulloso -y este es un patrimonio que nadie podrá arrebatarme- de haber sido durante estos 25 años fiel a los principios fundacionales de EL MUNDO, plasmados en esta misma página el 23 de octubre de 1989. Prometí que «EL MUNDO no servirá jamás a otro interés que el del público» y así ha sido. Prometí que «EL MUNDO no utilizará jamás la información como elemento de trueque u objeto de compraventa en el turbio mercado de los favores políticos y económicos» y nunca lo hemos hecho. Prometí que «toda noticia de cuya veracidad y relevancia estemos convencidos será publicada, le incomode a quien le incomode» y reto a que alguien aporte un solo ejemplo de que no haya sido así. Prometí que «toda investigación periodística será culminada, le pese a quien le pese» y en la medida de nuestras posibilidades -con éxitos históricos como los GAL, Filesa o las actas de ETA y asignaturas pendientes de la dimensión del 11-M-, nunca ha dejado de ocurrir. Prometí que «en este periódico no habrá tabúes, ni cotos vedados, ni zonas de sombra, ni sanctasanctórums» y no los ha habido.

Advertí por último: «Si alguien pretende hacernos pasar por el aro, como a tantos otros, que abandone desde hoy toda esperanza». ¿No es un milagro que dentro de la más bien lúgubre historia de la libertad en España hayamos podido mantener desafiante y enhiesto este estandarte durante todo un cuarto de siglo?

Mi último acto antes de dimitir como miembro del Consejo de Administración de Unidad Editorial ha sido apoyar con entusiasmo el nombramiento de Casimiro García-Abadillo como nuevo director de EL MUNDO. No tengo ninguna duda ni de su excepcional talento profesional, ni de su integridad personal, ni de su compromiso con todos estos valores. Bajo su batuta y con la misma orquesta -siempre he dicho que el director representa y coordina al elenco pero quienes tocan son los músicos- la continuidad de nuestro proyecto está asegurada. Casimiro tiene muchas de mis virtudes y pocos de mis defectos. Aunará la firmeza con la templanza y eso creará espacios de distensión sin que el periódico renuncie a ninguna de sus señas de identidad. El hecho de que el presidente ejecutivo de la compañía continúe siendo Antonio Fernández-Galiano -imbuido como pocos editores de la percepción del periódico como proyecto intelectual y ágora de debate- garantiza además que el nuevo director va a seguir teniendo la misma protección y cobertura con la que siempre he contado yo.

Por todo ello he preferido continuar ligado a Unidad Editorial y agradezco a sus directivos y accionistas que me permitan hacerlo en términos razonables.

Mientras EL MUNDO siga siendo EL MUNDO me sentiría incapaz -máxime tras lo sucedido el jueves- de hacer la competencia en ningún terreno a quienes siempre consideraré mis compañeros. Si las circunstancias cambian me tendrán, claro está, a su disposición.

Mientras sigue incubándose la crisis tremenda que de un modo u otro conmoverá todos los pilares de la España que conocemos, a mí me toca ahora dar un paso atrás. El 2 de marzo reanudaré mis cartas dominicales, auxiliado por el genio de Ricardo Martínez, bajo un nuevo epígrafe y en una ubicación distinta. Prepararé además la publicación de mi próximo libro -cuando me lo autorice la editorial revelaré su contenido-, me ocuparé de la revista 'La Aventura de la Historia' y dedicaré algo más de tiempo a mis amigos tuiteros.

Esta segunda vez el 'One Brief Shining Moment' de Camelot ha sido bastante menos breve y ha brillado mucho más que la primera. Hasta nuestros más enconados enemigos reconocen que la España de este último cuarto de siglo habría sido distinta, y probablemente peor, sin un diario como EL MUNDO. No sabemos lo que nos deparará el futuro, pero es la hora de pedir perdón a quienes dentro y fuera de la redacción se hayan sentido injustamente tratados por mis decisiones, la hora de dar las gracias de corazón a todos esos españoles que han abierto casi catorce mil millones de veces un periódico con mi firma, la hora de aprender las reglas de urbanidad del manual del buen ex director, la hora de colgar en el vientre de la ballena el lema de Juvenal -'Vitam impendere vero'- que me acompañará allí donde yo vaya.

Hoje, El Mundo

MEC: Já tenho saudades

Hoje, no Público

sábado, fevereiro 01, 2014