Ler a Visão desta semana é uma espécie de voltinha numa montanha russa, com direito a enjoo no final e tudo. Em rescaldo de festarolas dos santos, com carrosseis e palhaçadas afins, nada parece ser mais apropriado. Numa revista que se quer, e bem, plural, nada melhor do que um painel de cronistas em que cada um puxa a brasa para a sua sardinha.
Mário Soares acredita na redenção de Sócrates, que aprendeu a lição com a derrota nas europeias, que quer emendar a mão. Temos a cabeça à esquerda. Pedro Camacho, umas páginas à frente, não engole propriamente Manuela Ferreira Leite, mas também tem dificuldade em engolir o novo Sócrates. A nossa cabeça fica ali a meio caminho. Andamos mais um bocadinho, e Áurea Sampaio dispara contra o novo Sócrates, contra quem critica o novo Sócrates, mas também contra um PSD que, tendo saído de uma vitória nas europeias, perde a cabeça e embarca na palhaçada da moção de censura do CDS-PP sem, no entanto, aceitar dizer se casa ou não com ele caso vença as legislativas. A nossa cabeça começa a ficar tonta. E depois, claro, Ricardo Araújo Pereira, mordaz como sempre, a fazer-nos virar a cabeça à direita.
Enjoados? Sim. Mas não é pela prosa dos colunistas. É porque entre a primeira e a última crónica, há dez páginas (oito para o PSD; duas para o PS) que deveriam ser objectivas e são mais subjectivas do que as próprias crónicas. Manuela Ferreira Leite é emoldurada no título à-la-Obama, "Yes, we can", e como se fosse uma deusa negra vinda dos confins da América para salvar o pequeno Portugal, é levada ao colo pelo texto, aclamada como a salvadora a pátria. Sócrates, o pecador, é embrulhado no título "Espelho meu, espelho meu", e escorrega ali pelo texto como quem recebe a sanção pelas suas faltas, um Cristo contemporâneo levado pelo jornalista à cruz.
Sem comentários:
Enviar um comentário