terça-feira, fevereiro 24, 2015

segunda-feira, fevereiro 23, 2015

OSCARES 2015


Melhor filme: Birdman
Melhor realizador: Alejandro G. Iñárritu, Birdman 
Melhor ator: Eddie Redmayne, A Teoria de Tudo 
Melhor atriz: Julianne Moore, Still Alice 
Melhor ator secundário: J.K. Simmons, Whiplash 
Melhor atriz secundária: Patricia Arquette, Boyhood 
Melhor argumento original: Birdman 
Melhor argumento adaptado: O Jogo da Imitação 
Melhor filme de animação: Big Hero 6 
Melhor canção original: Selma 
Melhor banda sonora: Grand Budapest Hotel 
Melhor guarda-roupa: Grand Budapest Hotel 
Melhor caracterização: Grand Budapest Hotel 
Melhor cenografia: Grand Budaspest Hotel 
Melhor montagem: Whiplash 
Melhor mistura de som: Whiplash 
Melhor fotografia: Birdman 
Melhores efeitos visuais: Interstellar 
Melhor edição de som: American Sniper 
Melhor filme estrangeiro: Ida 
Melhor documentário: CitizenFour 
Melhor curta-metragem: Phone Call 
Melhor curta de animação: Feast 
Melhor curta documental: Crisis Hotline: Veterans Press 1

Germano Oliveira: "E agora é fazer piadas sobre os quatro pássaros na mão" *


Vamos a isto, que houve Óscares. Birdman chegou com nove nomeações: ganhou quatro, perdeu cinco e continua com a frase do ano. Grand Budapest Hotel mostrou gente bem vestida e a Academia apreciou, mas só lhe deu óscares técnicos (quatro). Foi complicado para Boyhood, mas Patricia Arquette, que levou o Óscar, mexeu com a JLo, com a Meryl Streep e com o governo norte-americano. O Clint ficou com um, o Foxcatcher sai maltratado (zero) e o Whiplash maravilhado (três). O momento hippie da noite envolveu um polaco e houve uma confissão delicada durante o Óscar do Jogo da Imitação.


Há aquele momento inicial no Birdman, em que o Keaton está de perna cruzada, suspenso no ar, e só lhe vemos as costas e um slip branco impecavelmente antigo: é assim e ali, num camarim decadente, que ele nos revela uma verdade fundamental - "smells like balls". Porque o Birdman é um apóstolo e um mártir - fala como um sábio, sente como um condenado. Mas a Academia salvou-o com quatro óscares: melhor filme, melhor realizador, melhor argumento original e melhor fotografia. Se houvesse melhor frase, o "Birdman" levava cinco

E cinco leva-nos à Julianne Moore. "Li num artigo que ganhar um óscar dá mais cinco anos de vida. Quero agradecer à Academia, porque o meu marido é mais novo que eu." Mas ela, que levou a estatueta de melhor atriz, lecionou-nos cinema - no "Still Alice", o filme que lhe trouxe o Óscar, e este domingo, quando se pronunciou no Dolby Theatre, em Los Angeles. "One of the wonderful things about movies is that it makes us feel seen." Pensamento dela para os que convivem com Alzheimer.

Vamos à contabilidade: o Sniper atormentado do Clint só leva um, daqueles secundários (edição de som), e o Grand Budapest Hotel fica com quatro dos que interessam menos, um dos quais é para bem vestidos (melhor guarda-roupa e ainda banda sonora, caracterização e cenografia). Ao Boyhood, exercício que divide os que lhe veem tédio e os que lhe reconhecem engenho, a Academia também só lhe proporcionou um (pormenorizamos mais à frente como e a quem). O Whiplash sai com três: montagem, mistura de som e ator secundário, que desenvolvemos num parágrafo que há de vir. O melhor realizador, Alejandro G. Iñárritu, já proclamámos que saiu ao Birdman e o melhor ator estava anunciado (e ficou concretizado) que era para Eddie Redmayne, da Teoria de Tudo (ele fez promessas de amor à estatueta e exercitou uns movimentos estranhos quando foi lá acima recolher o prémio).

J.K. Simmons levou o Óscar que tinha de ser dele e de nenhum outro, porque ele foi o melhor ator secundário a ser o professor principal de uma academia de música. Acontece em Whiplash: Simmons faz de Fletcher, um tipo impiedoso que usa chapéu elegante e roupa sombria e há gente a sangrar pelas canções dele. Gente que o reverencia detestando-o, que o respeita desprezando-o. Quando o chamaram para ele ir buscar o Óscar, fez pedidos: "Liguem à vossa mãe e ao vosso pai - se tiverem a sorte de os terem nesta terra. Liguem-lhes. Não enviem SMS, não escrevam mails".

E depois há os que não são de Hollywood e vão aos Óscares desfrutar da tese do Warhol - e ainda bem. Pawel Pawlikowski foi buscar o Óscar de Ida, melhor filme estrangeiro, e a Academia tentou expulsá-lo com aquela minicanção de aviso que inventaram há uns anos, mas ele não saía, porque tinha de agradecer ao mundo inteiro dele - à mulher, ao filho e aos pais que já perdeu. Pawlikowski demorou-se e mereceu-o, porque antes explicou-nos o que nos deu e como o óscar o surpreendeu: "Fizemos um filme a preto e branco, sobre a necessidade de silêncio e de contemplação, mas aqui estamos nós, no epicentro do barulho e da atenção global". Tornou-se herói e protagonista no Twitter, pelo que disse e como o manifestou.

Já se sabe como é isto dos óscares e o Bill Maher escreveu-o durante a noite: "This show is a lot like marriage: a lot of excitement in the beginning and the end, and a long slog in the middle". Mas a Patricia Arquette salvou-nos do aborrecimento que é aquele meio da cerimónia em que só há óscares desinteressantes, ela que é a melhor atriz secundária num filme que "é como a nossa vida - entediante, com umas centelhas de luminescência" (esclarecimentos de Nuno Pimentel durante o minuto a minuto do Expresso). Voltando a Arquette, mulher rija que vemos envelhecer no Boyhood sem alegria nos homens que escolhe, mas com bem-aventurança nos filhos que tem: quando ela foi receber a estatueta, a meio da cerimónia, ergueu a Meryl Streep e a Jennifer Lopez quando pediu #equalpay para as mulheres.

Instantes depois, a JLo e a Meryl sentaram-se no Dolby Theatre e o governo americano levantou-se no Twitter. O assunto é sério e a desigualdade factual: os Óscares são roupas, penteados e bijuterias, mas às vezes colocam na agenda estatísticas e realidades que estão por resolver.

E depois houve Graham Moore, chamado para receber o Óscar de melhor argumento adaptado pelo Jogo da Imitação. "Aos 16 anos, tentei matar-me." Revelou porquê: "Porque me sentia diferente, estranho." Sobreviveu e celebra-o: "Mas agora estou aqui". Foi lá acima pegar a estatueta porque adaptou ao cinema a história de um homem que nos deu os computadores mas que foi punido pelo Estado por ser homossexual. E Moore despediu-se com uma mensagem valente.

*No Expresso online

sábado, fevereiro 21, 2015

António Lobo Antunes. Ascensão e queda do ‘enfant terrible’ da literatura portuguesa*


É o mais importante escritor português, mas o último romance vendeu 1600 exemplares na Fnac, quando há anos se vendiam 10 mil em três meses. Por que abandonámos este minotauro no seu labirinto?

Claudio Magris, um dos maiores pensadores da Europa contemporânea, dedicava a sua crónica no jornal Corriere della Sera, do dia 22 de janeiro, a António Lobo Antunes e chamava-lhe mesmo “um dos mais prodigiosos e fascinantes mestres”, “um Minotauro” da literatura. Ecos em Portugal deste notabilíssimo reconhecimento? Nenhuns. Apenas o blogue do projeto António Lobo Antunes na Web dava conta do acontecimento. Da editora D. Quixote, onde o escritor publica desde 1983, não houve qualquer reação nem no site, nem nas redes sociais. Aliás, na página do Facebook da chancela do grupo Leya, são escassas as referências ao escritor cujo último romance saiu apenas em outubro. Quem é que desistiu de Lobo Antunes? Os leitores ou a editora?

Pedro da Mata, diretor de comunicação da Fnac, dá-nos números arrasadores: nos três meses que passaram desde o seu lançamento, Caminho como Numa Casa em Chamas vendeu apenas 1600 exemplares no conjunto de todas as Fnac portuguesas, que representam mais de 30% do mercado livreiro. E, apesar de a D. Quixote ter informado o Observador que o livro vai já na quarta edição, uma ronda pelas Fnac e Bertrand da cidade de Lisboa mostra que a única edição à venda é a primeira. Na livraria Bertrand do Centro Comercial da Amoreiras, uma das empregadas mostra no computador que nas outras casas deste grupo livreiro há ainda em stock entre 10 a 14 livros em cada uma.

Já a empresa GfK, que mede as vendas de livros não escolares de 80% do mercado português, confirma ao Observador que, entre 2012 e 2014, Lobo Antunes está apenas no grupo dos 40 escritores portugueses mais procurados. O grupo dos três mais vendidos é encabeçado por José Rodrigues dos Santos, cujo último livro ronda os 10 mil exemplares vendidos apenas nas lojas Fnac. Mais uma vez, Pedro da Mata resume bem a questão: “António Lobo Antunes deixou de ser um escritor da moda e tornou-se um escritor conceituado, 68% dos 1600 exemplares foram adquiridos por portadores do cartão Fnac, ou seja, são leitores cultos que compram livros todos os meses e provavelmente acompanham a obra de Lobo Antunes há muitos anos.”

Nelson de Matos, responsável editorial da D. Quixote entre 1981 e 2004, e um dos edificadores da carreira literária de Lobo Antunes, mostra-se “chocado e triste” com estes números e recorda que nos anos 80 se faziam “tiragens de 10 mil ou 15 mil livros que se vendiam em três meses”. O romance de 1999 Exortação aos Crocodilos teve mesmo uma primeira edição em outubro de 1999 e uma segunda logo no mês seguinte, cada uma delas com a indicação de tiragens de 30 mil exemplares. Estamos a falar de 60 mil livros vendidos em dois meses. Mas, segundo Nelson de Matos, houve outras obras com vendas estrondosas, como A Morte de Carlos Gardel, que ultrapassou os 100 mil exemplares em pouco mais de um ano. Isto em 1994, quando não havia cadeias livreiras em todo o país, apenas pequenas livrarias.

Sobre as muitas questões que estes números levantam, o Observador tentou sem sucesso falar com Maria da Piedade Ferreira, a editora de Lobo Antunes na D. Quixote.

Pedro da Mata considera que “há pouco investimento da editora neste autor e ele próprio não se promove, não interiorizou que as coisas mudaram. Hoje um livro e um autor vendem-se como um produto.” Seja pelas regras do mercado, seja por falta de investimento da editora ou por cansaço e pouca exigência dos leitores, a verdade é que o enfant terrible das letras portuguesas que fazia parar o país literário de cada vez que saía um livro seu, que tinha milhares de exemplares vendidos e edições esgotadas em poucos dias, desapareceu.

E desengane-se quem pensa que os seus livros de crónicas se vendem melhor. Pedro da Mata desmistifica: “quem gosta das crónicas de António Lobo Antunes vai lê-las na revista Visão e não compra o livro”. Nelson de Matos recusa esta teoria e contrapõe: “no meu tempo os livros de crónicas vendiam-se tanto como os romances, porque havia um trabalho de promoção do autor, um cuidado, um pensamento estratégico que deixou de haver por parte da D. Quixote e do grupo Leya em geral”.

A ordem natural das coisas?

Trinta e cinco anos de escrita, 25 romances, cinco livros de crónicas e um de correspondência, traduções em dezenas de línguas e pelo menos duas décadas à espera do prémio Nobel da Literatura fizeram de António Lobo Antunes “o elefante no meio da sala”, diz o escritor Bruno Vieira Amaral, 36 anos, prémio Pen Club Narrativa 2013.

“Ninguém escreve como ele. É, indiscutivelmente, o nosso maior escritor vivo e o único que pode legitimamente ambicionar o Nobel. Qualquer pessoa da minha geração que ambicione tornar-se escritor tem que passar por ele, lidar com a sua terrível força atratora, confrontar-se com o canto da sereia que é a sua escrita.” E remata: “só vende 1600 livros? Que bom para ele. Conquistou o direito de se estar nas tintas para os leitores, para o mercado e tudo isso”.

Opinião diferente tem José Alexandre Ramos, responsável pelo projeto António Lobo Antunes na Web, que existe desde 2004 e que é provavelmente a mais bem organizada e completa base de dados sobre o escritor. Este analista financeiro, de 44 anos, aponta como determinante o facto de as editoras “só apostarem no que é vendável e não em literatura” e atira também contra a “parca” crítica literária em Portugal. “Estou convencido que muita gente continua a ler António Lobo Antunes; apenas deixou de ser moda comprar os seus livros para montra das estantes domésticas. E tem leitores cada vez mais novos. Mas a verdade é que é muito pouco o que se escreve sobre os seus livros em Portugal, e eu vejo isso no trabalho de recolha que faço. Sem falar na opinião de leitura do leitor comum, a crítica literária não sabe escrever sobre Lobo Antunes.”

Opinião idêntica tem o poeta e editor João Paulo Cotrim, que lê Lobo Antunes desde os 15 anos e considera que os livros e o escritor “não perderam o fascínio”, apesar de ele já não ser o “fenómeno mediático que foi”. José Riço Direitinho e António Guerreiro, ambos críticos literários com posições antagónicas perante a obra do escritor, lembram os tempos em que na Feira do Livro de Lisboa as mulheres faziam filas intermináveis para ter um autógrafo dele. “Era considerado o escritor português mais giro e muitas aproveitavam esse momento para lhe passarem os seus números de telefone pessoais”, conta Riço Direitinho, “depois ele dizia coisas que mais ninguém dizia, umas disparatadas outras não, e trouxe para a literatura uma novidade de temas, de estilo e de olhar”.

Por seu turno, António Guerreiro recorda: “Era um enfant terrible que depois adotou a postura de menino mimado, as pessoas queriam ouvir as suas boutades como quando ele chamava a Vergílio Ferreira ‘o Sartre de Fontanelas’.” Guerreiro, um dos críticos literários portugueses há mais tempo no ativo, tem escrito reiteradamente sobre “o excesso que se torna vazio” dos livros de António Lobo Antunes. Em 1990, assinou um texto intitulado “Crítica da faculdade de enjoar” onde se debruça sobre o livro Tratado das Paixões da Alma, afirmando que a obra de Lobo Antunes é um “kitsch de segundo grau”.

Em 2007, o crítico Pedro Mexia quebrava a quase unanimidade que se instalou em torno do romancista, ao escrever: “o texto antuniano é hoje um melopeia cheia de repetições, parêntesis, devaneios, saltos temporais, períodos que não acabam e elidem os verbos (…) Essa concepção da escrita talvez explique o desgaste narrativo. António Lobo Antunes, sempre admirável nas duas páginas de uma crónica, tem escrito romances desnecessariamente prolixos e repetitivos.”

Nestas quase quatro décadas a viver para o oficio da escrita, António Lobo Antunes passou de um jovem, belo e promissor escritor a um homem envelhecido, descuidado com a sua imagem, como se aspirasse a fundir-se com o grotesco das suas personagens. Ao mesmo tempo, os seus livros trocaram o enredo por um trabalho sobre a linguagem que para uns é “genial”, como Riço Direitinho, João Paulo Cotrim e Bruno Vieira Amaral, e para outros, como António Guerreiro, é “vazio”.

A morte de José Saramago apagou do mapa o seu inimigo figadal e afastou aqueles que o liam como uma forma de contestar Saramago. “A geração que fez a Guerra Colonial e que lia e se revia nos seus romances foi morrendo, os currículos escolares não ajudam, nem a estúrdia coletiva em que vivem os jovens de hoje”, afirma Maria Alzira Seixo. Catedrática e especialista na obra antuniana, considera que este afastamento dos leitores de Lobo Antunes se pode ainda imputar à falta de investimento editorial e às políticas erradas do mercado de venda de livros.

“A crítica literária deixou de existir, os leitores não são convidados a pensar, a decifrar a obra. Um leitor de Lobo Antunes tem que ser envolvido pela obra, tem que aprender a lê-lo. Ora, sem uma editora que o ajude isto é uma tarefa impossível para ele”, declara Nelson de Matos.

Que elações podemos, então, tirar das escassas vendas do maior escritor português? António Lobo Antunes está morto? José Riço Direitinho é taxativo: “Lobo Antunes não está morto. Quem está morto são os leitores portugueses que só querem ler coisas fáceis, livros convencionais.”

Não entres tão depressa nessa noite escura

“A maior parte dos escritores deste país são castrados (…) fala-se em masturbação intelectual mas eu acho que nem é masturbação, são umas vagas festinhas na ponta do pirilau. Não têm sangue, não têm tripas (…) depois as pessoas queixam-se que em Portugal ninguém lê. É evidente que não leem (…) Portanto, eu compreendo que A Memória de Elefante se venda e também compreendo porque é que os outros não se vendem. Eu acho perfeitamente natural que eles não vendam porque aquilo que eles escrevem não é para ser lido a não ser por pessoas que gostam de fazer palavras cruzadas na alma ou jogar gamão dentro da cabeça, mas não viver. Não tem nada que ver com a vida (…) Tudo isso se passa ao nível da pequena cotterie com todas as suas mesquinhices, um pequeno bordel.”

Isto pode ler-se na primeira entrevista de sempre de António Lobo Antunes, publicada no extinto jornal Diário Popular, em 18 de outubro de 1979.

Quando chega à cena literária portuguesa, dominada ainda pelos neo-realistas e pelo cânone literário do crítico João Gaspar Simões, Lobo Antunes tem 36 anos, traz a nunca totalmente digerida Guerra Colonial para dentro do discurso literário, uma linguagem coloquial onde abundava o vernáculo, um estilo e um olhar absolutamente novos sobre as misérias do quotidiano da gente comum: “Ele foi uma pedrada no charco num tempo em que a escrita portuguesa era muito apetecida”, lembra o editor João Paulo Cotrim.

“O que me impressionou nele foi a liberdade de escrita, a capacidade de dizer coisas despropositadas, as suas metáforas impossíveis”, conta Riço Direitinho, que nessa altura tinha 18 anos, escrevia para o DN Jovem e tentava imitar o estilo antuniano. “Todos nós o imitávamos, a escrita dele cola-se à nossa, o olhar dele colava-se ao nosso”, diz ainda o crítico.

Se muitos aderiram e se renderam, muitos outros desconfiaram e as suas piadas e alusões a escritores mais velhos valeram-lhe muitos inimigos. A crítica não lhe perdoava o sucesso, a liberdade, a pose. Mas, em meados da década de 90, mais precisamente em 1996, com o romance Manual dos Inquisidores, quase todos acabam por se render. Entre eles o editor e escritor Luiz Pacheco, que tinha o hábito de assoar o nariz aos livros dos escritores mais novos, e Eduardo Prado Coelho, à data o mais determinante crítico literário português. No JL de 21 de novembro de 1996, depois de o chamar de “mimalho” e de lhe criticar o uso de “metáforas patetas” e o “exibicionismo cultural”, Pacheco reconhece: “gosto muito”, “venho aqui para aplaudi-lo”.

Em novembro de 2014, pouco depois da saída do livro Caminho Como Numa Casa em Chamas, António Guerreiro escrevia no jornal Público: “Nas entrevistas, António Lobo Antunes apresenta-se como um escritor que vive dentro de si a experiência da co-naturalidade com o acto criador, recuperando ideias que hoje já não subsistem, nem sequer nos nossos mitos: as ideias de inspiração, de génio, de entusiasmo (no sentido grego de possessão pelo divino).”

Ora, quem está atento ao mundo literário sabe que em cada entrevista António Lobo Antunes fala do Zé (Cardoso Pires), do Ernesto (Melo Antunes), da “mão que escreve sozinha”, dos “livros que se escrevem a si próprios”, “da infância em Benfica”, “do medo da morte”, “da possibilidade de deixar de escrever”. Conhece a postura da cabeça apoiada no dedo, da voz baixa e arrastada como se falasse sempre e só consigo mesmo, sabe que ele raramente ri, exceto nas conferências no estrangeiro. Para Maria Alzira Seixo, Lobo Antunes “é um homem encantador, com uma capacidade de riso e de ironia que ele usava na escrita e deixou de usar com muita pena minha”, lamenta a catedrática.

É toda uma mitologia pessoal, um solipsismo que a pouco e pouco foram sugando a própria obra. “A sua grande personagem é ele próprio”, afirma Bruno Vieira Amaral. “Ninguém vai ler uma entrevista do Lobo Antunes para ouvir o que ele tem a dizer sobre o mundo, ou mesmo sobre os livros que escreve, mas sim para ouvir o que ele vai dizer sobre si mesmo. E é aí que reside o meu fascínio por ele. Porque ele o faz de uma maneira única.”

Já José Riço Direitinho e João Paulo Cotrim reconhecem que pode haver algum cansaço, quer pela persona que o escritor criou, quer pelo ritmo de publicação. “São livros muito exigentes, que demoram tempo a fruir e se lidos uns atrás do outros dá a impressão que estamos sempre a ler a mesma coisa”, diz Riço Direitinho, antes de lembrar como ele enche salas noutros países, “porque não têm que o ouvir dizer as mesmas coisas todos os anos”.

E Cotrim desmente mesmo o mito de Lobo Antunes ser “pouco disponível para os media”, mostrando o livro Confissões do Trapeiro, de Ana Paula Arnaut, que compila todas as entrevistas saídas na imprensa portuguesa entre 1979 e 2007, e onde se podem encontrar conversas dele com jornalistas ou escritores praticamente todos os anos.
Se é verdade que muitas obras se esgotam prematuramente por serem demasiado admiradas, a vaidade indisfarçada de Lobo Antunes, os prémios e as honrarias, a falta de uma crítica confrontativa, não o impediram de viver para a escrita e de fazer dela a única finalidade da sua vida, o seu único ato moral e o seu eterno enigma. Ser uma coqueluche dos media não o fez desinvestir da obra para alimentar o fornalha da vaidade. Se há quem pressinta nele algo de falseado isso é, para outros, motivo de adoração.

Mas nas montras das livrarias, o grande esforço de marketing da Leya parece ter ido todo para vender o jovem Afonso Reis Cabral, de 24 anos, prémio Leya 2014, e para Inês Pedrosa, quando tem no seu catálogo o que Riço Direitinho diz ser “o único escritor genial de língua portuguesa, vivo”. O desinvestimento pode confirmar-se também nas redes sociais: a página do Facebook da D. Quixote, com os seus 6107 seguidores, tem, desde outubro até agora, apenas cinco menções a António Lobo Antunes, contra 28 posts sobre o novo romance de Inês Pedrosa (colocados em menos de um mês).

“O enredo não me interessa para nada”, declarava o escritor em novembro em entrevista à Visão. Desde o ano 2000, com Exortação aos Crocodilos, a escrita antuniana tornou-se um depurado ofício sobre a linguagem, que torna os seus livros mais próximos do trabalho poético do que do romance convencional. “Ele é um malabarista de intensidades que está, desde o primeiro livro, a traçar um fresco sobre a sociedade portuguesa do final do século XX e início do século XXI. O que ele escreve é de uma importância tal que não pode ser arrumado só porque não é novidade”, declara João Paulo Cotrim, que recusa terminantemente ver o génio de Lobo Antunes apenas nas crónicas: “as crónicas aproximam leitores porque são fáceis de ler e cheias de sentimentalismo, mas a grande obra dele são os romances”. Nelson de Matos corrobora esta posição: “sempre me desgostou muito esta colagem da sua imagem às crónicas, porque as crónicas não são nada quando comparadas com a genialidade, a capacidade de criação escrita dos seus romances”.

José Alexandre Ramos prefere apontar que “a escrita de Lobo Antunes se tornou mais refinada”, e acrescenta: “eu tinha medo que com a idade lhe acontecesse o que aconteceu ao Saramago e a outros cujos últimos livros não são nada, mais valia que estivessem calados”. E Maria Alzira Seixo afirma mesmo que ele “tem livros perfeitos como uma tragédia de Racine”.

A realidade é que, aos 72 anos, António Lobo Antunes parece ter sido sugado para um mundo intangível pelos leitores, tal como aqueles escritores que ele criticava em 1979: “é um escritor de nicho e, no panorama português, um escritor de nicho vender 1600 exemplares em três meses não é nada mau”, afirma o diretor de comunicação da Fnac.

Voltemos então ao olhar para o que diz o astuto Luiz Pacheco:

“Lobo Antunes, e gostaria de estar equivocado, caiu numa espécie de niilismo flamejante. Aura internacional bastante, nenhuma apetência para ficar por cá. Vejam o paradoxo: tínhamos um grande romancista de subúrbio; ficaremos qualquer dia a ler Lobo Antunes em francês ou em sueco…”

* Joana Emídio Marques, hoje, no Observador

sexta-feira, fevereiro 20, 2015

quinta-feira, fevereiro 19, 2015

E então, que quereis?...

[Jennifer B. Hudson]

Fiz ranger as folhas de jornal

abrindo-lhes as pálpebras piscantes.

E logo

de cada fronteira distante

subiu um cheiro de pólvora

perseguindo-me até em casa.

Nestes últimos vinte anos

nada de novo há

no rugir das tempestades.


Não estamos alegres,

é certo,

mas também por que razão

haveríamos de ficar tristes?

O mar da história

é agitado.

As ameaças

e as guerras

havemos de atravessá-las,

rompê-las ao meio,

cortando-as

como uma quilha corta

as ondas.

Vladímir Maiakóvski


Vladímir Maiakóvski nasceu e passou a infância na aldeia de Bagdádi, nos arredores de Kutaíssi (hoje Maiakóvski), na Geórgia - Rússia. Lá cursou o ginásio e, após a morte súbita do pai, a família ficou na miséria e transferiu-se para Moscou, onde Vladímir continuou seus estudos. Fortemente impressionado pelo movimento revolucionário russo e impregnado desde cedo de obras socialistas, ingressou aos quinze anos na facção bolchevique do Partido Social-Democrático Operário Russo. Detido em duas ocasiões, foi solto por falta de provas, mas em 1909-1910 passou onze meses na prisão. Entrou na Escola de Belas Artes, onde se encontrou com David Burliuk, que foi o grande incentivador de sua iniciação poética. Os dois amigos fizeram parte do grupo fundador do assim chamado cubo-futurismo russo, ao lado de Khlébnikov, Kamiênski e outros. Foram expulsos da Escola de Belas Artes. Procurando difundir suas concepções artísticas, realizaram viagens pela Rússia. Após a Revolução de Outubro, todo o grupo manifestou sua adesão ao novo regime. Durante a Guerra Civil, Maiakóvski se dedicou a desenhos e legendas para cartazes de propaganda e, no início da consolidação do novo Estado, exaltou campanhas sanitárias, fez publicidade de produtos diversos, etc. Fundou em 1923 a revista LEF (de Liévi Front, Frente de Esquerda), que reuniu a “esquerda das artes”, isto é, os escritores e artistas que pretendiam aliar a forma revolucionária a um conteúdo de renovação social. Fez inúmeras viagens pelo país, aparecendo diante de vastos auditórios para os quais lia os seus versos. Viajou também pela Europa Ocidental, México e Estados Unidos. Entrou freqüentemente em choque com os “burocratas’’ e com os que pretendiam reduzir a poesia a fórmulas simplistas. Foi homem de grandes paixões, arrebatado e lírico, épico e satírico ao mesmo tempo. Suicidou-se com um tiro em 1930. Sua obra, profundamente revolucionária na forma e nas idéias que defendeu, apresenta-se coerente, original, veemente, una. A linguagem que emprega é a do dia a dia, sem nenhuma consideração pela divisão em temas e vocábulos “poéticos” e “não-poéticos”, a par de uma constante elaboração, que vai desde a invenção vocabular até o inusitado arrojo das rimas. Ao mesmo tempo, o gosto pelo desmesurado, o hiperbólico, alia-se em sua poesia à dimensão crítico-satírica. Criou longos poemas e quadras e dísticos que se gravam na memória; ensaios sobre a arte poética e artigos curtos de jornal; peças de forte sentido social e rápidas cenas sobre assuntos do dia; roteiros de cinema arrojados e fantasiosos e breves filmes de propaganda. Tem exercido influência profunda em todo o desenvolvimento da poesia russa moderna. (Boris Schnaiderman in "Poesia Russa Moderna", Editora Brasiliense, 1985).

quarta-feira, fevereiro 18, 2015

Dostoievsky: Uma Criatura Dócil


"Sempre fui orgulhoso, sempre quis tudo ou nada. Era por isso justamente que não queria uma felicidade pela metade, mas por inteiro."

terça-feira, fevereiro 17, 2015

Charles Bukowski

[Tarkovsky, The Mirror]

"Todos nós vamos morrer, que circo!
Só isso deveria fazer com que nos amássemos uns aos outros.
Mas não faz."

sábado, fevereiro 14, 2015

I knew shed go on without me



On a train ride from some place bad 
to some place little better
inbetween my youth and manhood
was a place I met her
she was just a skinny brown eyed girl
with a hunger for tomorrow
and I was then obese by pain
I had all that I could swallow

Oh fair haired traveling girl
keep on traveling on
oh fair haired traveling girl
its just the seat that you have is wrong

Her eyes were packing past regrets
in her lips there was redemption
and she mistook my coat for love
as she wore it for affection
and as she took the seat beside me
I inhaled all of her laughter
and she forgot there is a past 
while I forgot there is an after

Oh fair haired traveling girl
keep on traveling on
oh fair haired traveling girl
its just the seat that you have is wrong

On a train ride from some place gone
to some place almost ceratin
inbetween my flesh and bone
was a place I met her
and wrapped up in my coat of shame
she laid there sleeping tightly
and as the train pulled to another stop
well I knew shed go on without me

sexta-feira, fevereiro 13, 2015

quarta-feira, fevereiro 11, 2015

Lady Lazarus, Sylvia Plath (1932 - 1963)


I have done it again.
One year in every ten
I manage it--

A sort of walking miracle, my skin
Bright as a Nazi lampshade,
My right foot

A paperweight,
My face a featureless, fine
Jew linen.

Peel off the napkin
O my enemy.
Do I terrify?

The nose, the eye pits, the full set of teeth?
The sour breath
Will vanish in a day.

Soon, soon the flesh
The grave cave ate will be
At home on me

And I a smiling woman.
I am only thirty.
And like the cat I have nine times to die.

This is Number Three.
What a trash
To annihilate each decade.

What a million filaments.
The peanut-crunching crowd
Shoves in to see

Them unwrap me hand and foot--
The big strip tease.
Gentlemen, ladies

These are my hands
My knees.
I may be skin and bone,

Nevertheless, I am the same, identical woman.
The first time it happened I was ten.
It was an accident.

The second time I meant
To last it out and not come back at all.
I rocked shut

As a seashell.
They had to call and call
And pick the worms off me like sticky pearls.

Dying
Is an art, like everything else.
I do it exceptionally well.

I do it so it feels like hell.
I do it so it feels real.
I guess you could say I’ve a call.

It’s easy enough to do it in a cell.
It’s easy enough to do it and stay put.
It’s the theatrical

Comeback in broad day
To the same place, the same face, the same brute
Amused shout:

‘A miracle!'
That knocks me out.
There is a charge

For the eyeing of my scars, there is a charge
For the hearing of my heart--
It really goes.

And there is a charge, a very large charge
For a word or a touch
Or a bit of blood

Or a piece of my hair or my clothes.
So, so, Herr Doktor.
So, Herr Enemy.

I am your opus,
I am your valuable,
The pure gold baby

That melts to a shriek.
I turn and burn.
Do not think I underestimate your great concern.

Ash, ash--
You poke and stir.
Flesh, bone, there is nothing there--

A cake of soap,
A wedding ring,
A gold filling.

Herr God, Herr Lucifer
Beware
Beware.

Out of the ash
I rise with my red hair
And I eat men like air.

Sylvia Plath morreu a 11 de Fevereiro de 1963

Atenas e Berlim esticam corda em Bruxelas


terça-feira, fevereiro 10, 2015

Love is just an institution based on human frailty



Ancient holy wars
Dead religions, holocausts
New regimes, old ideals
That's now myth, that's now real
Original sin, genetic fate
Revolutions, spinning plates
It's important to stay informed
The commentary to comment on

Oh, and no one ever really knows you and life is brief
So I've heard, but what's that gotta do with this black hole and me?

Age-old gender roles
Infotainment, capital
Golden bowls and mercury
Bohemian nightmare, dust bowl chic
This documentary's lost on me
Satirical news, free energy
Mobile lifestyle, loveless sex
Independence, happiness

Oh, and no one ever knows the real you and life is brief
So I've heard, but what's that gotta do with this atom bomb and me?

Colosseum families
The golden era of TV
Eunuch sluts, consumer slaves
A rose by any other name
Carbon footprint, incest dreams
Fuck the mother in the green
Planet cancer, sweet revenge
Isolation, online friends

Oh, and love is just an institution based on human frailty
What's your paradise gotta do with Adam and Eve?
Maybe love is just an economy based on resource scarcity
What I fail to see is what that's gotta do with you and me

segunda-feira, fevereiro 09, 2015

Pedro Burmester


Para quem esteve lá na Casa da Música naquele mágico 8 de Dezembro de 2013 e para quem não esteve. Uma edição lindíssima, disco duplo, acompanhado de uma entrevista conduzida por Anabela Mota Ribeiro, então publicada no "Público". Para ouvir e ouvir e ouvir. Não me ocorre nada melhor onde investir vinte euros. 

domingo, fevereiro 08, 2015

Benjamin Grosvenor na Casa da Música


Foi o músico britânico mais jovem de sempre a assinar com a editora Decca Classics e o primeiro pianista britânico em quase 60 anos. Benjamin Grosvenor, 22 anos, tornou-se conhecido em 2004, com apenas 11 anos, quando venceu a categoria de piano do concurso BBC Young Musician of the Year. Desde então, nunca mais parou.

Hoje estreou-se em Portugal, na Casa da Música. Um fim de tarde perfeito, embora preferíssemos mais sentimento e menos técnica. 


Programa:

Enrique Granados 3 peças de Goyescas 

Crítica de Pedro M. Santos, no Público
Um Benjamin promissor

A Gavotte foi executada com delicadeza e elegância, sobretudo pela requintada ornamentação do tema, transportando o ouvinte para o universo barroco. Ao longo das seis variações, o pianista respeitou o carácter e a transparência de uma partitura originalmente escrita para cravo, não deixando no entanto de explorar articulações e nuances de intensidade próprias do idioma pianístico, conseguindo assim um excelente equilíbrio entre a singeleza do original e a maior expansividade sonora do piano.

A transcrição para piano que Ferruccio Busoni realizou da Chaconne para violino solo de Johann Sebastian Bach é frequentemente apresentada em recitais a solo, pois representa um enorme desafio técnico e interpretativo. Tal deve-se à concepção sonora amplamente pianística que a transcrição propõe e que justifica a sua autonomia face à obra original. Esta amplificação sonora faz com que a obra pareça originalmente escrita para piano, constituindo o desafio interpretativo da obra a capacidade do pianista explorar as “novas” potencialidades então sugeridas.

A interpretação de Grosvenor foi totalmente ao encontro da concepção que Busoni imprimiu na transcrição, revelando um forte sentido interpretativo nesta exploração, respeitando simultaneamente a transparência das texturas polifónicas e o sentido dramático do discurso musical.

Grosvenor concluiu a primeira parte do concerto com a execução de Prelúdio, Coral e Fuga, de César Franck, evidenciando propósito estilístico e formal no repertório escolhido. Nesta obra, o pianista soube equilibrar a austeridade bachiana com o pathos romântico, proporcionando uma interpretação muito convincente.

A segunda parte começa com um conjunto de obras de Frédéric Chopin, menos expansivas, onde o pianista nos dá a conhecer um repertório mais intimista que constituiu um interessante contraste com a primeira parte. A excelente interpretação destas peças, em particular das duas mazurcas e da 3ª Balada, revelou igual qualidade interpretativa num repertório menos espectacular, confirmando assim a maturidade musical de Grosvenor (pois não é só com músculo e fogo de artifício que se constrói um excelente recital de piano).

Nas três peças de “Goyescas” que finalizavam o programa, Grosvenor aliou delicadeza, forte sentido lírico e um bom equilíbrio entre o intimismo e a extroversão emocional que caracterizam a obra de Granados. Deste modo, o pianista proporcionou uma interpretação muito segura e expressiva, fazendo com que parecesse ser fácil tocar a música deste compositor.

Grosvenor executou ainda dois encores pouco conhecidos – La fuente y la campana, de Frederico Mompou, e o Capricho em fá menor Opus 28/6, de Ernö Dohnányi –, cuja interpretação foi também de elevada qualidade.

Apesar de ser um jovem de apenas 22 anos, Benjamin Grosvenor demonstrou uma enorme maturidade técnica e musical, abordando todas as obras do recital com o mesmo grau de profundidade e de rigor interpretativo. A sua performance teve um nível de qualidade muito elevado do início ao final do concerto, merecendo sem qualquer dúvida os calorosos aplausos do público e fazendo antever uma carreira muito promissora.

terça-feira, fevereiro 03, 2015

Harper Lee, 55 anos depois


Tenho a edição mais bonita de todas do livro de Harper Lee que em português tem traduções que oscilam entre "Não matem a cotovia", "Mataram a cotovia" ou  "Por favor, não matem a cotovia". Foi-me oferecido há uns três anos, e esta fotografia não lhe faz justiça, é a edição comemorativa dos 50 anos de vida da história que foi adaptada em 1962 ao cinema por Robert Mulligan ("Na sombra e no silêncio"). Nunca o li, apesar de insistentemente aconselhada a fazê-lo. Na sempre difícil tarefa de hierarquizar prioridades de leitura, este era um daqueles livros que achava que teria a vida toda para ler, porque era exemplar único de uma escritora americana que não tinha escrito mais nada e que era já demasiado velha para voltar a escrever. Enganei-me. Harper Lee, Prémio Pullitzer, tem 88 anos, mas vai publicar a sequela em Julho. Chama-se "Go set a watchman" e consta que está escrito desde 1950. Faremos maratona.