segunda-feira, julho 31, 2006

Pode piorar?

O JN distribui postais perfumados dos 'Morangos com Açucar'. O Expresso oferece posters com passatempos da 'Floribela'. E o 24 Horas uma coisa qualquer do Noddy. Estamos em grande!

domingo, julho 30, 2006

Filho pródigo


Se o rapaz amuou quando lhe tiram a braçadeira de capitão de equipa, o que fará agora Simão, sem o Valencia disposto a pagar a verba exigida pelo Benfica, vendo-se obrigado a regressar a casa como o filho pródigo?

Fogo-cruzado

É disto que eu gosto no Público - uma espécie de liberdade, única na imprensa nacional, que permite aos jornalistas-cronistas-outros criar uma espécie de novela retórica, que nos obriga a ansiar pela edição do dia seguinte. E isto não é ironia; é inveja.
Depois da saudosa dupla José Manuel Fernandes - Ana Sá Lopes (que agora habita com Vanessa no DN) que se agrediam verbal, alegre e frequentemente nas crónicas como dois daqueles tanços de luta livre, é agora a vez de São José Almeida e, claro, Vasco Pulido Valente.
Ela escreveu ontem sobre o recentemente criado movimento cívico "Não Apaguem a Memória", subscrevendo-o. "É a noção exacta do que representou a ditadura fascista de Oliveira Salazar e de Marcello Caetano que dá o real valor e a real dimensão da importância única, insubstituível da democracia", defendeu. Hoje, VPV insulta-a ferozamente, acusando-a de ser ignorante e de não saber a diferença entre Salazar e Marcelo Caetano. "SJA clama eloquentemente contra a irresponsabilidade".
No meio da pasmaceira triste, que são os jornais de Verão, impregnados de inquéritos mentecaptos, sugestões de férias balofas e reportagens que não lembram ao diabo, é saudável acompanhar este tipo de batalha. Aguarda-se a resposta de São José Almeida. A bem da sanidade dos leitores.

sexta-feira, julho 28, 2006

Miguel Veiga, "o menino velho"


A minha afinidade com o Partido Socialista é pública. O enorme respeito, quase no limiar do afecto, que me inspira Miguel Veiga, fundador do PPD-PSD juntamente com Francisco Sá Carneiro, nem por isso. Mas a verdade é que existe, mesmo considerando, entre outras coisas reprováveis, o facto de ter sido mandatário da candidatura de Rui Rio à Câmara do Porto. Falei com ele, apenas, duas vezes, por telefone, e foi assim uma espécie de amor (salvo seja) à primeira audição.
Na edição de ontem da Visão, o advogado "mimado", que ama Paris e as mulheres, concede uma entrevista notável, mais pessoal do que nunca, a Miguel Carvalho. O único 'senão' vai mesmo para o jornalista. Acho que é uma tendência dos tempos modernos: os jornalistas batem-se pelas cachas com o mesmo furor com que se batem pelas últimas entrevistas. Mas tratar os 70 anos de Miguel Veiga, "desflorado aos treze por duas meninas inglesas de olhos azuis", como se fossem 98 - logo ele, que diz recusar ter mais de 20 anos -, e o homem estivesse já com os pés na cova não me soou nada bem. O meu pai tem 69 anos e não me passa pela cabeça outra coisa que não seja tê-lo comigo, como ele assegura diariamente, pelo menos, mais três dezenas de anos.
Miguel Veiga sobre a amizade: "A amizade é o lugar da terra onde mais gosto de viver. São os meus amigos que me têm feito". E sobre as mulheres: Era e sou ultra romântico, muito táctil (aponta para os dedos). Não era pelos amores etéreos, Tristão e Isolda, essas coisas. Os corpos são fundamentais. O corpo da mulher é, para mim, mais do que uma atracção, um mistério não resolvido. É o território onde um homem se perde, mas sempre se salva". Sobre a infância: "Se há paraíso, a minha infância e a minha juventude foram o paraíso. Continuo a trazer a infância pela mão. Sou um menino velho". E sobre o mimo: "As pessoas dão-me mimos e eu ponho-me a jeito. Peço. Sou como os gatos, porque gosto que me façam festas. O mimo é a melhor temperatura do mundo".

O homem que se segue?

A Visão desta semana confidencia que Paulo Maria Rodrigues, 42 anos, será o novo coordenador da área educativa da Casa da Música. Depois do saudoso Fausto Neves e de Maria João Araújo, será ele o homem que se segue para devolver o rumo que o Serviço Educativo nunca deveria ter perdido?
Os jornais ainda não disseram nada, mas o currículo do senhor alimenta a esperança. Paulo Maria Rodrigues é professor-auxiliar da Universidade de Aveiro colaborando também com a Universidade Católica. É director artístico da Companhia de Música Teatral.
Foi membro do Coro de Câmara de Lisboa, do Coro Gulbenkian e premiado no Concurso de Jovens Compositores da Juventude Musical Portuguesa. Após ter realizado a licenciatura e o mestrado no Instituto Superior de Agronomia, e ter concluído o Doutoramento em Bioquímica e Genética na Universidade de East Anglia, optou por se dedicar a tempo inteiro à Música. Obteve o diploma do Curso de Pós-Graduação em Ópera na Royal Academy of Music, onde estudou com uma bolsa desta instituição. Tem-se apresentado em Portugal e Inglaterra em recitais, concertos e óperas. Ainda em Londres, retomou com mais intensidade a sua actividade como compositor, seguindo orientações do compositor Rolf Gehlhaar.
Mas o que mais me entusiasma é mesmo o facto de ter realizado, também em Londres, serviço cívico como objector de consciência, trabalhando com crianças imigrantes e de meios sociais desfavorecidos, de que resultou a criação e apresentação de Spidaranha. Entre outros trabalhos com e para crianças, será de destacar O Gigante Adamastor.

Maria João Pires, é desta?


Maria João Pires
disse que, cansada "dos malefícios que Portugal" lhe estava a provocar, vai emigrar para o Brasil, onde, de resto, já parece ter comprado uma casa e onde se encontra actualmente de férias. Já anteriormente, igualmente saturada, tinha ameaçado ir viver para Espanha. Aliás, a pianista está há sensivelmente seis anos - altura que fundou esforçadamente o Centro de Belgais, perto de Castelo Branco -, a fazer ameaças: que vai embora, que vai deixar de tocar no país, que vai encerrar o projecto.
Os argumentos de Maria João Pires são compreensíveis... até certo ponto. Criar um projecto cultural em Portugal é sempre um risco e uma caminhada solitária. Avançar, sabendo-o, é um acto de coragem. Desistir, depois de goradas as expectativas, pode ser aceitável. Ameaçar sucessivas vezes ir embora e nunca o concretizar, criando um circo mediático à volta da ameaça, é que já não pode merecer respeito. Como não merece respeito a circunstância em que, aparentemente, o fez desta vez.
Maria João Pires deixou, há um mês, numa assembleia geral, a presidência do Centro de Belgais para o Estudo das Artes. E indicou o coordenador artístico, o maestro César Viana, como novo responsável directivo da associação. Mas não disse a nenhum elemento do projecto que iria viver para o Brasil. Anunciá-lo na Antena 2, deixando as pessoas que com ela se empenharam no projecto surpreendidas, é inadmissível.

quinta-feira, julho 27, 2006

Grito da ex-Culturporto

Marcelo Mendes Pinto, ex-vereador da cultura, o primeiro dos três que Rui Rio já nomeou em cinco anos, escreveu anteontem no "Nortadas":
"(...) A Lei nº 5-A/2002, que altera a Lei nº 169/99, ao estabelecer o quadro de competências, assim como o regime jurídico de funcionamento dos orgãos dos municípios e das freguesias, consagra as competências no âmbito dos apoios que as Câmaras devem prestar a actividades de interesse municipal, entre as quais as de natureza cultural (Art. 64). É, portanto, a Cultura uma área que o Estado reconhece como de interesse municipal e, localmente, da competência da Câmara o seu apoio. Por isso não me parece colher o argumento da ausência de vocação. Será uma questão ideológica? Não me parece que a tranferência da gestão de um Teatro Municipal para privados seja apanágio social-democrata ou liberal. A Câmara não pretende mesmo intervir na vida cultural da Cidade? Demite-se?"


E hoje, João Alpuim Botelho, ex vice-presidente da Culturporto, acrescentou:

"A Direcção da Culturporto foi substituída por um fotógrafo e por uma engenheira alimentar (sim, eu também nem quis acreditar, mas a directora do Teatro Municipal da segunda cidade do país é hoje uma senhora que é engenheira alimentar, que tem como melhor habilitação no curriculum o facto de ter sido responsável pela secção cultural da junta de freguesia do Bonfim e, claro, ser irmã do presidente da distrital do CDS/PP). Não foi um prenúncio do fim? Ninguém reparou nisso. Ninguém disse nada".

Diogo Garcia, 14 anos

Há rituais pré-históricos que nunca deveriam ter sido perdidos, como o de matar pessoas à pedrada ou atirá-las vivas para uma fogueira, deixando-as morrer em lenta combustão. Esse ritual, aparentemente desumano, daria hoje muito jeito para assassinar todos aqueles que continuam a raptar crianças.
Recebi hoje o mail de um mãe desesperada a quem roubaram o filho. Aliás, recebo, como suponho que toda a gente, cada vez mais mails destes.
Diogo Alexandre Castanheira Garcia tem 14 anos e desapareceu ontem no fim de jantar, tendo alguém enviado um sms para o telemóvel da irmã, dizendo que estavam em Setúbal, dirigindo-se para Espanha.
Contactos:
PSP de Queluz: 21. 435 06 44
Mãe:91. 856 84 42
Pai:96. 293 46 77

quarta-feira, julho 26, 2006

Grande Prémio do Rio


Rui Rio confessou ontem, na reunião do executivo camarário, não saber o montante do Grande Prémio da Boavista. Disse que não foi um milhão nem dez milhões. "Acho que anda por aí, nessa ordem de grandeza", atirou. Como se entre um milhão e dez milhões a diferença não fosse substancial. Como se a um autarca tão cioso do seu rigor contabilístico fosse permitido "achar" em vez de "assegurar". Como se não saber em Julho de 2006 um valor que prometeu divulgar em Outubro de 2005 fosse uma coisa perfeitamente normal.
Curioso: Rui Rio não sabe o que custou o circuito, mas sabe que não custou nada à Câmara. Não sabe o que custou o circuito, mas sabe que a bilheteira o cobriu a 100%.
Felizmente, Rui Sá terá aprendido a usar a máquina de calcular na altura em que estagiou com o autarca. E a máquina diz que o circuito custou quase 3,5 milhões. E diz mais: diz que 64,1% da despesa teve o contributo da União Europeia.
Será que Rui Rio sabe que também existem fundos comunitários para a cultura?

domingo, julho 23, 2006

Saudades do mar


Lembras-te quando me enviaste, pelo correio, um saco cheio de areia da praia de S. Pedro de Moel? Eu tinha lá estado no ano anterior; tu estavas ali naquele instante. Foram as primeiras férias a seguir ao ano lectivo em que nos conhecemos. Guardo-a numa caixa, só tua, juntamente com os postais, feitos à mão, que trocámos durante vários anos. E com uma fotografia, que recortei de uma revista, onde vinha um carro igual ao teu Twingo cor-de-rosa.
Os postais tinham, quase sempre, citações de livros, como a que me enviaste agora de Londres.

"Diego não conhece o mar. Um dia, o pai leva-o à praia: "E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de formosura. E quando por fim conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: 'Ajuda-me a olhar'" .
Tu tens saudades do mar. Eu tenho saudades tuas.

www.juntosnorivoli.com


Está em curso, na internet, uma petição para contestar a decisão da Câmara do Porto de privatizar o Rivoli. No momento em que escrevo existem 384 subscrições. Não estou certa de que o número seja ainda simpático, mas espero que engorde e que a vigília marcada para amanhã, às 19 horas, em frente ao edifício, seja efectivamente representativa da dimensão do descontentamento.
No entanto, ao ler alguns comentários deixados por alguns subscritores, ocorreu-me alertar para um possível equívoco: uma coisa é contestar a solução, obviamente execrável, do Executivo liderado por Rui Rio. Outra coisa, bem diferente, é sustentá-la com a "programação de qualidade" que, supostamente, o Teatro Rivoli tem apresentado nos últimos tempos.
Não tem havido, globalmente, programação de qualidade no Rivoli. Manter um ou outro evento, como o Fantasporto ou o FITEI, não basta. Como não basta, embora seja obrigatório, acolher as peças das companhias de teatro independente da cidade. Há muito tempo que a directora, Isabel Alves Costa, não tido sequer orçamento para cumprir as funções que lhe cabem, ou seja, produzir e programar. O que tem havido no Rivoli são pequenos apontamentos, estrelas cadentes, acontecimentos fugazes e porventura felizes. O resto, o imenso resto, infinitamente superior à produção própria a que o equipamento está obrigado pelos estatutos, tem estado circunscrito a espectáculos de aluguer de qualidade duvidosa.
O que deveria estar em causa não é, portanto, apenas, a eventual marcha-atrás da Câmara em relação ao Teatro Municipal. O que é urgente exigir é a demissão imediata do vereador da Cultura, Fernando Almeida, cujas competências, claramente reflectidas na apatia cultural da cidade, não existem.
(Perdoem-me o cinismo, mas é irresistível: bem-feito para todos os que deram maioria absoluta a uma equipa que já tinha demonstrado no mandato anterior as proezas de que era capaz.)

Cid promete nu integral


Fiz o teste proposto pela Rádio Comercial, que está a dedicar o fim-de-semana à recente Cid mania. Resultado: se "eu fosse uma música da «mãe do rock português»", seria "A Cabana". "Você é o típico melancólico, que gosta de pensar e repensar na vida. Romântico, adora cenários intimistas e pela-se pela doce amargura de um coração partido".
Ok, o teste não é muito edificante, mas a emissão radiofónica foi hilariante - tanto que cheguei a pensar que seria um actor a fazer de conta. Mas não, era mesmo ele. José Cid deu uma entrevista, repletinha de pérolas para a posteridade, onde prometeu cumprir um "nu integral" se as rádios nacionais começarem a passar "mais música portuguesa de qualidade em deterimento de música estrangeira, mesmo que cantada por portugueses, de média qualidade". E justificou: "Os portugueses não sabem cantar em inglês. Dizem "I am" (eu sou) como quem diz "I ham" (eu presunto). Por isso, acrescentou, só gosta dos Blasted Mechanism, "porque cantam com aquele sotaque das ilhas".
Ainda em relação ao nu, assegurou que já tem cerca de 30 ou 40 colegas que estão na disposição de fazer o mesmo numa sala de teatro ou mesmo num estádio de futebol. "Não tem mal nenhum; não ofende ninguém. Só espero que não estejam actrizes atraentes a ver-nos na primeira fila".
Cid falou ainda dos fãs, a quem ofereceu a casa. "Eles, os denominados Tós, andam aí, na casa dos 30 anos, a perseguir-me nos concertos em vez de aproveitarem as férias para fazerem coisas divertidas e irem para sítios agradáveis. Coitados, andam nuns carros pequeninos e isso não pode ser. Por isso, agora, ficam em minha casa, em melhores condições. Só lhes disse para não tomarem banho na banheira porque está muito velha; tomam na piscina que tem água muito limpa".
Palavras para quê?! É o homem das "favas com chouriço"!

sábado, julho 22, 2006

Todos pelo Rivoli

Ainda alguém se lembra deste anúncio publicado "por engano" no Jornal de Notícias no dia 27 de Março, Dia Mundial do Teatro? E lembram-se que Rui Rio ameaçou processar o director do jornal?

TEATRO
Excelente localização, no centro do Porto, auditório com capacidade para 800 pessoas, mais pequeno auditório, restaurante/bar, sala de ensaios, zona administrativa, amplas áreas para congressos, conferências, casamentos, baptizados e eventos promocionais. Vende-se ou cede-se exploração a privados.
URGENTE
Contacto: Câmara Municipal do Porto - 222 097 000

Scolari fica


Se não ficasse, o povo, no rescaldo da emoção do Mundial, faria um motim. Permanecendo, não há-de faltar quem se insurja duramente contra a solução de continuidade. A Federação Portuguesa de Futebol decidiu renovar, por dois anos, o contrato com o Seleccionador Nacional, Luiz Felipe Scolari, e seu séquito. Depois de ter conseguido o segundo lugar no Euro 2004 e o quarto lugar no Mundial da Alemanha, qual é o limite?

Virgínia Rodrigues


Já me aconteceu uma vez: querer partilhar uma música e, não sabendo como, limitar-me a transcrever a letra. Descobri a voz de Virgínia Rodrigues, ex-manicure saída de uma favela de Salvador, e que o New York Times definiu, em tempos, como sendo "uma das mais impressionantes cantoras surgidas no Brasil nos últimos anos", há dois ou três anos. Caetano Veloso descobriu-a há mais: em 1997. Aqui fica, infelizmente em silêncio, "Mimar você", do álbum "Nós".

Mimar você
Eu te quero só pra mim
Você mora em meu coração
Não me deixe só aqui
Esperando mais um verão
Espero meu bem pra gente se amar de novo
Mimar você
Nas quatro estações
Relembrar
O tempo que passamos juntos
Bem bom viver
Andar de mãos dadas na beira da praia
Por esse momento eu sempre esperei

Instinto maternal

Nos últimos 18 meses quase todas as minhas amigas tiveram bebés. Quase todas pela primeira vez. A Sofia, em Braga, teve a Francisca, uma menina linda, que é, com um orgulho imenso, minha afilhada. A Lurdinhas veio propositadamente da Madeira para ter as gémeas Inês e Leonor, duas bonequinhas que parecem ter sido desenhadas com o mesmo rigor que a mãe usa para fazer desenhos únicos. A Claudinha teve, também em Braga, a Maria, que hei-de conhecer um destes dias, mas a quem não restará outra destino que não o da grandeza dos pais. A Regininha, em Lisboa, teve o Gustavo, a quem também ainda não fui apresentada, mas que imagino com o absolutamente irresistível charme da mãe. A Helena, no Porto, teve o risonho Ricardo para fazer companhia à Júlia, uma menina que parece grande e que dá vontade de roubar. A Sandoca, em Vila Real, teve o David, a quem já não faltam candidatas a namoradas. A Ana, em Guimarães, teve a Margarida, que recordo acabadinha de nascer, com os olhinhos ainda sem força para abrir. A Nina, em Fafe, teve a Maria, um piolhinho irrequieto que nunca chora. E a Cândida teve, esta semana, também no Porto, a Laurinha, que espero ter no colo nos próximos dias. O Tiaguinho, em Lisboa, foi pai outra vez. Desta vez, do Francisco, que está a aprender, tal como o irmão João, a chamar-me tia. E o outro Tiago, de Ovar, deu ao Gustavo, que me proporcionou a mais encantadora visita ao Oceanário, a mana Clarinha, a bebé com o olhar mais comovente que já conheci.
De repente, entraram doze crianças novas na minha vida. E a inexplicável alegria que isso me provoca é um privilégio impossível de agradecer.

"Amigos", Vinicius de Moraes

(Obrigada, querido Luís. Por tudo.)

"Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles. A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor. Eis o que permite que o objecto dela se divida em outros afectos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências ...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar. Muitos deles estão lendo esta crónica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários. De como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente construí, e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo. Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer ... Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!
A gente não faz amigos, reconhece-os."

quarta-feira, julho 19, 2006

Oportunidades perdidas

De vez em quando fazem-se intervalos da vida. Às vezes, só com aquela esperança, vagamente idiota, porque raras vezes verificada, de colocar a cabeça no lugar. Às vezes, só por causa das férias. Neste intervalo de três semanas, perdi a oportunidade de lamentar a derrota de Portugal contra a Alemanha e de dizer como isso me deixou triste, sobretudo por saber que ainda não é desta vez que o país vai parar de andar com o Eusébio atrelado. Perdi a oportunidade de partilhar a minha vontade de pontapear o fulano que, ao meu lado, não parava de clamar pelo Nuno Gomes e de como esse discurso, repetido insitentemente ao longo de quase 90 minutos, me impediu de ficar feliz com o cruzamento do Figo. Perdi ainda a oportunidade de elogiar o António Macedo que, noite após noite, fez um trabalho notável na Antena 1. De me redimir parcialmente em relação a Scolari. De me despedir do Figo e de me solidarizar com Zidane. Sempre achei, e continuo a achar, que há momentos em que a violência verbal é bem pior do que a física.
Pior, eu, católica praticante, com um passado de catequista e todas as comunhões e retiros espirituais cumpridos, perdi a oportunidade de ficar envergonhada por todos os imensos hipócritas que criticaram Zapatero por não ter assistido à missa do pápa, que parece ter encontrado na homossexualidade o bode expiatório para a crise das famílias. Perdi ainda a boleia para a piada desse jornalismo que, da entrevista de José Sócrates a Maria João Avillez, na Sic, só conseguiu reter que o primeiro-ministro afirmou aprender coisas com Cavaco Silva.
E perdi - é talvez o que mais me custa -, a oportunidade de destilar o inevitável veneno sobre a crónica que Rui Rio escreveu um destes dias no Diário de Notícias sobre como viver no planeta autista.

terça-feira, julho 18, 2006

Tiro ao alvo

Recompensa-se quem assassinar o Noddy, a Floribela e o homem da marchinha do Skip a cantar: "Eu sei, eu sei, és o mais lindo sabão a lavar em Portugal".

sexta-feira, julho 07, 2006

D. Afonso Henriques

E se o primeiro rei de Portugal tivesse sido, não um gigante, mas uma criatura com um metro e meio e fosse alcoólico? Terá sido o terror do fim do mito a levar o Ministério da Cultura, o Ippar e outras entidades responsáveis, sejam elas quais forem, a travar, à ultima hora, a autorizacão para exumar o corpo de Afonso Henriques? Ou foi só mais um dos números de Isabel Pires de Lima?

quinta-feira, julho 06, 2006

Diário do Mundial

Franca 1 - Portugal 0. Imperou o silencio no fim do jogo. Hoje, todos os jornais, comentadores de ocasião e outros condenaram o Deco por não ter feito magia. É injusto. Mesmo reconhecendo que não teve a sua melhor exibicão, um jogador sozinho não faz uma equipa. Perdemos. Ponto final. Será assim tão mau considerando que metade do país desejava apenas ficar entre as oito melhores seleccões do mundo? Considerando a prestacão miserável que tivemos na Coreia? Considerando sobretudo que o único golo que a Franca conseguiu marcar foi um penalti? Zidane terá o fim de carreira que sonhou e que merece. Mas os franceses que assobiaram Cristiano Ronaldo, naquele que foi provavelmente o seu melhor jogo, deviam ser triturados numa Molinex. Aliás, o mesmo destino mereciam os ingleses que moveram uma accão contra a popularidade do número 17.

O melhor de podermos ainda alcancar o terceiro lugar é mesmo a esperanca de que se deixe de uma vez por todas de falar do Mundial de 1966 e sobretudo de Eusébio.

P.S.: Escrevo num teclado que não me permite colocar acentos e cedilhas.

segunda-feira, julho 03, 2006

Nicolás Guillén

"Há muitas coisas puras no mundo que são uma pura merda."

Nicolás Guillén, poeta comunista cubano

sábado, julho 01, 2006

Diário do Mundial


Foi quase comovente.